A novela ‘Vale Tudo‘, um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira, voltou a ganhar destaque com sua reexibição no Globoplay e, agora, com o remake atualmente no ar. Lançada originalmente em 1988, a trama questiona a ética, a ambição e o papel da mulher em um país marcado por desigualdades — temas que permanecem surpreendentemente atuais.
Embora a história mantenha seu roteiro e personagens clássicos, a recepção atual evidencia como os temas tratados permanecem muito pertinentes. O protagonismo feminino, representado principalmente pela personagem Raquel Acioly, vivida por Taís Araújo, ganha nova dimensão ao ser reinterpretado por um público contemporâneo mais atento às questões de gênero.
Raquel simboliza a mulher batalhadora, ética e firme, que enfrenta ambientes majoritariamente masculinos e práticas questionáveis, algo ainda muito comum em vários setores da sociedade.
Para a empresária e especialista em liderança feminina Elisa Rosenthal*, fundadora do Instituto Mulheres do Imobiliário, e autora do livro Proprietárias e Degrau Quebrado, a novela retrata um dilema ainda vivido por muitas brasileiras: vencer em um sistema que ainda privilegia a lógica masculina de poder.
“A Raquel é a personificação da mulher que constrói tudo com esforço próprio, enquanto assiste outras pessoas, como a filha Maria de Fátima, crescerem pelo atalho. Isso ainda acontece nas empresas”, analisa Elisa.
“Muitas mulheres são subestimadas, mesmo com resultados concretos. O que mudou é que agora temos mais voz — e não estamos mais sozinhas”, complementa.
Com carreira consolidada no setor imobiliário, Elisa atua como mentora, conselheira e articuladora de políticas de equidade em ambientes corporativos. Seu instituto, que completa 6 anos, já impactou centenas de mulheres, de corretoras a executivas C-Level, que buscam espaço em conselhos e cargos de decisão.
Segundo dados da Women on Boards, apenas 16% dos assentos em conselhos administrativos no Brasil são ocupados por mulheres. No setor da construção civil e imobiliário, a presença feminina é ainda mais escassa, girando em torno de 10% em cargos de liderança.
“O que vemos hoje é o início de uma virada. As empresas que integram lideranças femininas têm maior retorno financeiro, mais inovação e uma cultura mais ética. Isso não é mais discurso — é mercado”, conclui Elisa.
Assim como na ficção, a mulher real ainda precisa enfrentar estereótipos, superar silêncios e resistir às estruturas. Mas, diferentemente dos anos 80, hoje ela não apenas sobrevive — ela lidera a transformação.