Os esforços internacionais prosseguiam, nesta quinta-feira (14), para enviar ajuda humanitária à Faixa de Gaza, devastada pela guerra entre Israel e Hamas e em risco de fome, segundo a ONU.

Os combates continuaram no território palestino, após o fracasso da mediação de Estados Unidos, Catar e Egito para alcançar uma trégua durante o mês de jejum muçulmano do ramadã, que começou na segunda-feira.

O Ministério da Saúde de Gaza, governada pelo movimento islamista Hamas, reportou ao menos 69 mortes nas últimas 24 horas.

Segundo este informe, mais de 40 bombardeios atingiram Gaza de Beit Hanun, no norte, em direção a Rafah, no sul, onde vivem aglomeradas 1,5 milhão de pessoas, a maioria deslocada pela guerra.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reiterou a promessa de invadir Rafah, apesar das “pressões internacionais” para impedir que o exército entre na cidade e “termine seu trabalho”.

“Continuarei rejeitando as pressões e vamos entrar em Rafah”, disse Netanyahu durante visita a uma base da inteligência em campo.

O porta-voz do exército israelense, Daniel Hagari, afirmou, na quarta-feira, que seu país busca estabelecer “uma ilha humanitária”, para onde poderiam ser deslocados os moradores de Rafah, em coordenação com organizações internacionais.

O conflito teve início em 7 de outubro, com o ataque de comandos islamistas em solo israelense, no qual morreram cerca de 1.160 pessoas, sobretudo civis, segundo balanço da AFP com base em dados israelenses.

Em retaliação, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e lançou uma campanha militar que deixou até o momento 31.341 mortos, a maioria civis, segundo o ministério da Saúde de Gaza.

Comandos islamistas também sequestraram, durante a incursão, cerca de 250 pessoas e 130 ainda estariam sob poder do Hamas em Gaza, das quais 32 teriam morrido.

Ativistas e familiares dos reféns israelenses pressionam o governo por sua libertação e nesta quinta-feira voltaram a interromper uma rodovia em Tel Aviv durante um protesto.

Também nesta quinta, a polícia israelense informou que um palestino que cresceu em Gaza matou a facadas um soldado. O autor da agressão também morreu no ataque.

– Novo premiê palestino –

O navio “Open Arms”, da ONG espanhola de mesmo nome, zarpou na terça-feira do Chipre com cerca de 200 toneladas de ajuda humanitária e está se aproximando da costa israelense, segundo o site Marinetraffic. Trata-se da primeira embarcação a utilizar o corredor marítimo que permite chegar a Gaza.

Esta via será complementada com um píer temporário em frente a Gaza, que será construído por tropas americanas.

Os Estados Unidos, principais aliados de Israel, aumentam a pressão sobre o governo Netanyahu. O líder da maioria democrata do Senado, Chuck Schumer, pediu a realização de “novas eleições” no país.

Schumer – que é o político judeu de mais alto nível nos Estados Unidos – afirmou, ainda, que Netanyahu é um dos “maiores obstáculos” a uma solução de dois Estados e à paz.

Estados Unidos e várias outras potências ocidentais pediram uma reforma na liderança da Autoridade Palestina com vistas ao pós-guerra.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, nomeou, nesta quinta, Mohammad Mustafá, como primeiro-ministro. Mustafá, um economista formado nos Estados Unidos, de 69 anos, assume o cargo três semanas após a renúncia de seu antecessor, Mohammed Shtayyeh, que alegou a “necessidade urgente de um consenso” entre os palestinos ao apresentar sua demissão.

Desde as disputas fratricidas de junho de 2007, a liderança palestina se dividiu entre a Autoridade Palestina, de Abbas, que exerce um poder limitado na Cisjordânia, território ocupado desde 1967 por Israel, e o Hamas, no poder em Gaza.

– “Não são uma alternativa” –

A Faixa de Gaza, submetida ao cerco de Israel desde 9 de outubro, sofre com uma escassez grave de insumos e vários países recorreram a aviões para lançar ajuda humanitária.

Mas 25 ONGs, incluindo a Anistia Internacional e a Oxfam, alertaram que estas operações humanitárias aéreas “não são uma alternativa” às entregas terrestres.

Às margens do mar Mediterrâneo, no norte de Gaza, já há pessoas aguardando a chegada do “Open Arms”, entre elas Eid Ayub.

Ayub lamentou, porém, que quando a ajuda chegar, “não haja nenhuma organização para distribuí-la”.

Outros, como Mojles al Masry, um deslocado de 27 anos, que fugiu para Beit Lahia, no norte de Gaza, esperaram em vão pela entrega de ajuda pelo ar.

“Não há comida para alimentar nossos filhos. Nem sequer encontramos leite infantil. Estamos dando voltas desde a primeira hora da manhã, esperando que um avião deixe cair um paraquedas”, relatou.

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