Proposta de Trump para Gaza dificulta relação Israel-Arábia Saudita, dizem analistas

Elizabeth Frantz/Reuters
Trump e Netanyahu se reúnem na Casa Branca Foto: Elizabeth Frantz/Reuters

A ideia do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de tomar o controle da Faixa de Gaza coloca em risco os esforços para construir relações entre a Arábia Saudita e Israel e ameaça atiçar o sentimento antiamericano no reino saudita, na avaliação de analistas.

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A proposta do republicano depende de um despejo de mais de dois milhões de palestinos da região, o que foi rechaçado pela comunidade internacional. “Ele fecha as portas para o reconhecimento saudita de Israel”, disse James Dorsey, pesquisador do Instituto do Oriente Médio da Universidade Nacional de Singapura.

O reconhecimento de Israel pela Arábia Saudita, lar dos locais mais sagrados do islã, seria visto como uma grande conquista na diplomacia do Oriente Médio, que poderia aliviar as tensões regionais.

Mas a Arábia, maior exportador de petróleo do mundo e economia mais relevante do Oriente Médio, corre o risco de enfrentar instabilidade em suas fronteiras se seus vizinhos Jordânia e Egito acolherem um grande número de refugiados de Gaza.

Riad também deve manter relações cordiais com Washington, que garante sua segurança e é um baluarte contra o Irã. “A Arábia Saudita não tem a quem recorrer quando se trata de segurança, exceto Washington”, afirmou Dorsey.

Reação rápida

Riad participou ativamente de negociações pela resolução do conflito entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas e considera a possibilidade de interrupção do processo. Os sauditas reagiram rapidamente à proposta de Trump em uma publicação do Ministério das Relações Exteriores que “reafirmou sua rejeição inequívoca a tentativas de deslocar o povo palestino de suas terras”.

A ideia de Trump traz riscos para o país, que está envolvido em uma ambiciosa transformação econômica pós-petróleo e depende de estabilidade para atrair negócios e turistas. Se os moradores de Gaza forem realocados para o Egito e a Jordânia, “isso enfraquecerá dois países que são essenciais para a estabilidade regional e a segurança saudita”, disse o pesquisador Aziz Alghashian.

Segundo o especialista saudita, a proposta de Trump e a postura de Netanyahu, que o apoiou, “mostram que eles não são verdadeiros parceiros para a paz aos olhos de Riad”, especialmente o líder israelense, que aparentemente “quer todos os benefícios sem fazer nenhuma concessão”.