Diplomatas brasileiros e auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmaram ao PlatôBR que a pauta de negociação que será apresentada pelo governo dos Estados Unidos deve incluir propostas para que eles tenham acesso aos minerais críticos explorados no Brasil e para evitar sanções e tributação excessiva às bigtechs. Segundo técnicos do Planalto, na melhor das hipóteses, um acordo provisório poderia interromper a sobretaxação de 40%, após o presidente Donald Trump suspender a taxação de 10% sobre produtos agrícolas na última sexta-feira, 14.
Com isso, o Brasil teria mais disposição para negociar as demandas dos americanos. Um exemplo disso são os minerais críticos, importantes para a produção de chips e componentes que serão essenciais para a nova fronteira tecnológica aberta com a inteligência artificial. A China concentra a maior reserva desses minerais e as tensões entre chineses e americanos são um problema nesse contexto. Com isso, o Brasil passa a ser uma alternativa para fornecer essas commodities aos Estados Unidos.
No caso das bigtechs, o governo petista tem sinalizado uma proposta de regulação, que ainda não foi apresentada. Trump, entretanto, é contra qualquer medida nesse sentido e tem grande proximidade com os fundadores e controladores das principais companhias desse setor. Com isso, a expectativa dos diplomatas é que esse tema esteja na pauta de negociações.
Itamaraty busca negociação
Na última quinta-feira, 13, o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) esteve reunido com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, em Washington, e os dois temas foram citados na reunião, afirmaram à reportagem duas pessoas que participam desse debate. Vieira afirmou após a reunião que aguarda para até esta semana uma resposta dos americanos sobre a proposta de negociação encaminhada pelo governo brasileiro para resolver o tarifaço.
O Brasil quer derrubar as sobretaxas aplicadas pelos Estados Unidos e as sanções impostas a autoridades brasileiras, entre elas ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e integrantes do primeiro escalão de Lula, pelo presidente Donald Trump.
O USTR (United States Trade Representative), Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos em tradução livre, analisa as propostas brasileiras e apresentará os pleitos do governo petista a Donald Trump. Somente após a deliberação do presidente americano, uma resposta será encaminhada ao Itamaraty, afirmou um diplomata brasileiro que acompanha esses trâmites.
Caso o governo dos Estados Unidos demore a enviar uma resposta à pauta de negociação apresentada pelos brasileiros em reunião técnica em 4 de novembro, auxiliares do Planalto têm defendido que Lula ligue para Trump. Os dois trocaram os telefones quando se participaram da reunião bilateral na Malásia.
Cobranças do setor privado
A decisão de Trump de derrubar apenas as tarifas de 10% sobre os alimentos levou o setor privado a cobrar uma ação firme do governo brasileiro. Em nota, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) afirmou que a decisão dos Estados Unidos expõe a urgência de o Brasil avançar na negociação para remover a taxa extra de 40% aplicada aos produtos brasileiros.
“Países que não enfrentam essa sobretaxa terão mais vantagens que o Brasil para vender aos americanos. É muito importante negociar o quanto antes um acordo para que o produto brasileiro volte a competir em condições melhores no principal destino das exportações industriais brasileiras”, afirmou Ricardo Alban, presidente da entidade.
Marcos Matos, diretor-executivo do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), foi mais taxativo. “Melhorou para os nossos concorrentes e piorou para o Brasil”, disse. Segundo ele, países como Colômbia e Vietnã, também produtores de café, tiveram as tarifas zeradas, enquanto o produto brasileiro continua com uma sobretaxação de 40%. Quase um terço do café comprado pelos Estados Unidos tinha origem no Brasil, antes do tarifaço.