21/01/2020 - 9:06
Os cientistas se perguntam sobre a origem e as consequências do misterioso vírus da família da SARS que se propaga rapidamente pela China, onde matou seis pessoas e infectou quase 300, e que já chegou à Tailândia, ao Japão e à Coreia do Sul.
– O que é o coronavírus? –
A agência de saúde da ONU aponta que o surto da doença na cidade de Wuhan, no centro da China, tem origem em uma cepa nunca vista, pertencente a uma grande família de vírus que inclui aqueles que causam desde o resfriado comum até doenças mais graves, como a Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS).
Segundo o chefe do Departamento de Epidemiologia do Instituto Pasteur em Paris, Arnaud Fontanet, a nova cepa é o sétimo tipo conhecido de coronavírus que os humanos podem contrair.
“Acreditamos que a fonte pode ter sido animais vendidos no mercado de peixes da cidade e, de lá, passou para a população humana”, disse à AFP.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que “uma fonte animal parece ser a origem primária mais provável (…) com uma transmissão limitada de pessoa para pessoa entre contatos próximos”.
O surto causa alarme, por seu vínculo com a SARS, que matou 349 pessoas na China continental e outras 299 em Hong Kong, no período 2002-2003.
Fontanet disse que a atual cepa viral é 80% geneticamente idêntica à SARS.
Até agora, 258 pessoas já foram diagnosticadas com o vírus na China, e o surto já matou seis.
– Momento de pânico? –
Fontanet declarou que este coronavírus parece ser “mais fraco” do que a SARS em sua forma atual, mas alertou que pode sofrer mutação para uma cepa mais virulenta.
“Não temos evidências para dizer que esse vírus sofrerá mutação, mas foi o que aconteceu com a SARS”, apontou.
“O vírus circula há pouco tempo, então é muito cedo para dizer”, acrescentou.
Quanto à transmissão de pessoa para pessoa, Zhong Nanshan, um renomado cientista da Comissão Nacional de Saúde chinesa, anunciou nesta terça-feira que está confirmado o contágio entre humanos.
Fontanet destacou, por sua vez, que o fato de o vírus se espalhar para além da China – para Japão e Tailândia – “nos faz temer que a transmissão entre humanos é provável”.
Em um artigo publicado na sexta-feira, cientistas do Centro MRC de Análise Global de Doenças Infecciosas do Imperial College de Londres alertaram que o número de casos provavelmente chegará a 1.700, bem acima do número anunciado oficialmente.
A OMS recomendou que as pessoas se protejam do vírus lavando bem as mãos, tapando o nariz quando espirram, cozinhando bem a carne e os ovos e evitando o contato próximo com animais selvagens, ou de criação.
A melhor maneira de conter qualquer surto de doença é confirmar rapidamente a fonte, disse Raina MacIntyre, da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney.
“Os animais estão sendo testados na região de Wuhan e devem fornecer algumas informações”, comentou.
Especialistas disseram que as autoridades devem estar vigilantes e monitorar as pessoas que viajam de, ou para, Wuhan para detectar sinais de problemas respiratórios.
– Lições aprendidas? –
Fontanet declarou que as autoridades sanitárias chinesas têm respondido de forma admirável, testando rapidamente pacientes e vinculando casos ao mercado em questão.
“Aprendemos algumas lições com a SARS. Estamos mais bem armados e mais reativos”, afirmou.
Adam Kamradt-Scott, especialista em disseminação e controle de doenças infecciosas da Universidade de Sydney, disse que a China “se apressou em compartilhar a sequência do genoma desse novo coronavírus”.
“Isso permitiu a identificação deste novo caso no Japão”, apontou.
Fontanet acrescentou que faltava transparência no início da epidemia de SARS, quando a China “escondeu a história por dois ou três meses” no início do surto.