ROMA, 13 FEV (ANSA) – O presidente da Associação Nacional dos Magistrados (ANM), Piercamillo Davigo, um dos responsáveis pela Operação Mãos Limpas, que deflagrou um grande esquema de corrupção nos principais partidos da Itália, lamentou nesta segunda-feira, dia 13, que a situação do país mudou muito pouco desde o início do inquérito, em 1992. “Há 25 anos da Mãos Limpas, é dramático o quão pouco a situação mudou e o quanto a Itália piorou no panorama internacional com a corrupção “, afirmou o magistrado em uma entrevista ao jornal italiano “Corriere della Sera”.   

“A Itália é um país corrupto a níveis, finalidades e modalidades diversas. É uma nação que está morrendo. Há desconfiança, as pessoas não vão mais votar, expatriam”, continuou Davigo. Durante a entrevista, o presidente do ANM também falou sobre as possíveis soluções para a corrupção, afirmando que é “necessário começar na escola”, educando as crianças, e também introduzir “algumas das leis que valem para os mafiosos” para os corruptos.   

Ainda sobre a relação entre legislação e corrupção, o italiano também disse que “a injustiça pode estar na lei mais que nos homens se a lei é contrária ao senso comum da Justiça, e muitas das leis aplicáveis o são”. Por isso, “agora a ameaça da prisão não é verossímil porque o código penal é um ‘espantalho'” e “quem vai para cadeia é, portanto, um tolo de ser preso em flagrante ou membro do crime organizado”, explicou Davigo. Já sobre a Operação Mãos Limpas, em específico, o magistrado disse que a investigação “fez o que podia”. A operação italiana atingiu os mais altos níveis políticos, econômicos e institucionais do país e provocou o desaparecimento ou redimensionamento dos principais partidos da época, como a Democracia Cristã e o Partido Socialista Italiano, fundando a Segunda República. Ao todo, os promotores milaneses obtiveram 1,2 mil condenações por corrupção e crimes correlatos e provocaram um terremoto na Itália. Os três anos da investigação inicial provocaram uma desconfiança generalizada nos partidos e também foram marcados por uma grave crise econômica, prisões em sequência e atentados da máfia. Ao mesmo tempo, havia uma grande esperança – mais tarde despedaçada – de que a “Mãos Limpas” levasse mais transparência e honestidade ao poder público. Além disso, o magistrado também criticou o sistema criminal italiano afirmando que o “problema da Justiça é o número de processos” e que a solução para isso é a “despenalização”.   

“Em um sistema bem ordenado, um inocente não deve ser libertado, não deve nem ao menos ser julgado por que para ele o processo é uma tragédia. Os filtros deveriam ser [realizados] no início” dele, explicou o magistrado que ressaltou que a Itália tem que ter a “coragem” para diminuir os processos. Um dos exemplos citados pelo italiano foi o dos homicídios nas estradas cuja pena, segundo ele,”é tão alta que daqui a pouco qualquer um dirá que quis matar para responder por homicídio doloso”, disse, irônico. Isso porque no ano passado foi aprovado na Itália que a pena para mortes em acidentes nas estradas pode chegar até 18 anos, enquanto a pena média de um homicídio doloso no país é de 12 anos. (ANSA)