O tratamento de um câncer é um processo que exige muito da pessoa e do corpo dela. A quimioterapia e a radioterapia, quase sempre necessárias, têm alguns efeitos colaterais, sendo a pele uma das áreas prejudicadas. Vermelhidão, ressecamento e até bolhas ou feridas podem surgir e é importante que os pacientes usem produtos adequados, que hidratem e não contenham substâncias que possam agravar o quadro.

Pensando em amenizar essas possíveis complicações, a farmacêutica Karina Soeiro desenvolveu a linha de cosméticos 2Care, da Cosmeteria Gourmet Bebeau, composta por um creme hidratante corporal e um sabonete líquido. Os itens foram produzidos com ingredientes naturais, sem conservantes, corantes ou essências, ou seja, não possuem insumos que possam agredir a pele sensível de quem passa pelo tratamento oncológico.

Junto com a linha, a mestre em ciências farmacêuticas lançou no dia 1º deste mês um projeto social que doa os produtos para instituições que atendem pessoas com câncer. “Qualquer pessoa pode usar [os produtos], mas são principalmente para esses pacientes. Olhamos cada necessidade deles. O creme, por exemplo, tem óleo de oliva, de aveia, matérias-primas nobres que fazem esse cuidado com a pele”, diz Karina.

A ideia da linha 2Care surgiu após a farmacêutica ganhar um prêmio em dinheiro. “Com parte dele, eu queria ajudar alguém, pensei em doar para alguém, mas por que não utilizar a formulação para multiplicar? Surgiu a ideia de cuidar da pele de pacientes com câncer”, conta. Assim, ela investiu uma fração do montante na produção dos dois cosméticos, dos rótulos e flyers de divulgação.

Com tudo pronto, Karina apresentou a proposta para as 60 farmácias de manipulação da rede Apotheka, criada por ela em 2004. Espalhadas por todas as regiões do Brasil, cada loja aderiu ao projeto e escolheu, ao menos, uma instituição para doar os produtos. Os itens também estão à venda nos espaços físicos e pelo site, e a farmacêutica afirma que há procura espontânea pelos cosméticos.

“Na semana do lançamento, recebi mensagens de gente do Brasil inteiro que ficou sabendo do produto e queria saber como ajudar, como comprar. A gente viu que em pouco tempo a proposta foi se multiplicando”, diz. Embora tenha sido lançado no Outubro Rosa, a ideia é que o projeto social continue ao longo de todos os anos. “Eu acredito que isso só vai crescer. A Cosmeteria está crescendo e esse projeto vai estar junto, crescendo cada vez mais. Dentro do nosso grupo, vemos farmacêuticos emocionados, falando das experiências de poder ajudar e a gente vê que quando se faz o bem, atrai o bem.”

Para confeccionar os produtos da linha 2Care, Karina seguiu por duas vertentes: fez pesquisas na literatura médica científica e conversou com médicos sobre as necessidades dos pacientes. “Eles me direcionaram para o que seria ideal para esse tipo de pele. Na radioterapia, há alterações, principalmente desidratação, coceira, bolhas nos pés, e a utilização de produtos específicos e suaves pode prevenir ou minimizar esses efeitos”, diz a especialista.

Problemas de pele no tratamento oncológico

O dermatologista Luiz Guilherme Castro, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, afirma que a quimioterapia é boa, faz bem e salva vidas, “mas o preço que o corpo humano paga para se livrar das células cancerígenas não é pequeno”. O médico destaca que o termo quimioterapia engloba diversas classes de remédios e os efeitos colaterais dependem do tipo de quimioterápico utilizado.

No geral, as células cancerígenas se multiplicam muito rápido e é contra elas que os remédios agem. Porém, outras células saudáveis, mas que também têm uma velocidade de crescimento alta, como as da pele, podem sofrer indiretamente.

“A quimio não tem efeitos definitivos, são mais temporários, mas podem ocorrer alterações nas unhas, aparecer manchas avermelhadas na pele, com formação de pontinhos de pus ou não. Existem tipos de quimio que podem causar engrossamento da pele nas palmas das mãos e a pele fica tão grossa que começa a quebrar, formar fissuras”, diz Castro.

Já a radioterapia pode ter consequências mais graves. O raio utilizado no método atravessa a pele para chegar ao órgão afetado e causa lesão em todo o trajeto. Em casos raros, a pessoa pode apresentar radiodermatite, reação cutânea caracterizada por hipersensibilidade, vermelhidão na área tratada, inflamação, dor, coceira e feridas. Em algumas situações, os efeitos são tão sérios que podem levar à suspensão do tratamento oncológico.

Cuidado com a pele durante tratamento de câncer

Uma vez que o diagnóstico de câncer, geralmente, vem de forma inesperada, é difícil falar em prevenção para os efeitos colaterais na pele. Independente da doença, cuidar dela diariamente é essencial. “Quanto mais normal a pele estiver antes do tratamento , melhor. É comum pessoas de idade terem a pele ressecada. Antes de iniciar o tratamento de câncer, faz-se um tratamento de super-hidratação da pele”, explica o dermatologista.

Caso os efeitos cutâneos comecem a aparecer após o tratamento oncológico, deve-se escolher bem o tipo de creme a ser utilizado. “A pele fica sensível, machucada, não tem o mesmo grau de resistência que a pele normal. Um creme hidratante com ureia, que geralmente deixa a pele fina e bem hidratada, vai provocar ardência em uma pele já sensível”, alerta Castro.

O médico recomenda uma linha de produtos para pele sensível e tomar cuidado com a composição, pois algumas substâncias, como o parabeno, podem causar alergia. O especialista destaca também os mitos quando se fala em cuidar da pele durante o tratamento de câncer. “Não precisa passar abacate na pele ou babosa no cabelo. A medicina já evoluiu bastante para oferecer produtos que tenham mais vantagens do que essas terapias naturais”, diz.