O risco de desabastecimento hídrico nas grandes cidades é uma preocupação crescente. Fatores como o crescimento populacional, a urbanização descontrolada, o consumo indiscriminado de água e as mudanças climáticas fazem com que essa discussão ganhe relevância cada vez maior na sociedade. Em Belo Horizonte, essa discussão ganha contornos dramáticos, devido à atuação das mineradoras na região da capital. Por esse motivo, um projeto de autoria da deputada Carol Caram (Avante) ganha fôlego na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG)
A proposta busca preservar os recursos hídricos da Grande BH, proibindo o licenciamento de minerodutos, especialmente os que se utilizam de enormes quantidades de água. Os minerodutos são grandes estruturas em tubulações, responsáveis pelo transporte de minério das minas até o porto mais próximo.
O Projeto de Lei (PL) 3.402/25, da parlamentar, ganhou parecer favorável da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, e deve ser votado em plenário em breve. O objetivo é preservar o equilíbrio dos ecossistemas e garantir que a sociedade participe ativamente do processo decisório.
A iniciativa da deputada não é a única. Propostas semelhantes, apresentadas pelos deputados João Vitor Xavier (PSDB) e Ana Paula Siqueira (REDE), também buscam impor restrições ao uso indiscriminado da água e proteger áreas estratégicas para a recarga hídrica. No entanto, iniciativas como essas frequentemente esbarram na resistência de mineradoras, que exercem forte pressão política e econômica para flexibilizar as regras do setor.
Risco ambiental
Ambientalistas e especialistas alertam para os riscos significativos dos minerodutos, sobretudo na RMBH, e denunciam práticas das mineradoras que, segundo eles, “beiram a irresponsabilidade criminal”. O histórico do transporte de minério de ferro no Brasil é marcado pelo predomínio das rodovias, um modal que traz consigo problemas como aumento do trânsito, acidentes, poluição e menor eficiência financeira, além de piores indicadores ambientais devido à elevação das emissões de CO2.
Alternativa viável
Em meio ao debate, o transporte ferroviário desponta como uma alternativa eficiente e sustentável. Um único vagão de trem pode transportar até 100 toneladas — mais de três vezes a capacidade de uma carreta padrão, além da redução de custos logísticos e diminuição na emissão de gases tóxicos na atmosfera, como o dióxido de carbono.
As ferrovias oferecem versatilidade, pois não dependem de água para operar, podem transportar diferentes tipos de carga e se integram facilmente a outros modais, como o marítimo e o rodoviário. Os investimentos em infraestrutura ferroviária não só otimizam a logística, mas também impulsionam o desenvolvimento econômico regional, com geração de empregos e estímulo às indústrias locais.
Linha férrea em Serra Azul: novo capítulo
Um exemplo dessa tendência é o projeto do ramal ferroviário ‘Serra Azul’, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com cerca de 26 quilômetros de extensão, a linha irá conectar os municípios de Mateus Leme, Igarapé, São Joaquim de Bicas e Mário Campos à malha ferroviária Sudeste. Assim, o minério extraído na região poderá ser transportado diretamente ao porto do Rio de Janeiro, sem depender de caminhões.
A expectativa é de que cerca de 5 mil veículos de carga, entre carretas e caminhões, deixem de circular diariamente pela BR-381, reduzindo congestionamentos e acidentes. A estrada é conhecida como “rodovia da morte”, registrando mais de 7 mil acidentes nos últimos três anos, sendo 440 fatais.
O projeto, liderado pela Cedro Mineração, prevê investimentos de R$ 1,5 bilhão e deve entrar em operação em 2027, com capacidade para transportar 25 milhões de toneladas por ano. A iniciativa representa um passo decisivo para a diversificação dos modais de transporte em Minas Gerais, reforçando o compromisso do Estado com a sustentabilidade e a eficiência logística
Inovação e sustentabilidade
O presidente do Conselho da Cedro Participações, Lucas Kallas, fundador do grupo, pretende investir R$ 1,5 bilhão na construção dessa miniferrovia. A previsão é que as obras tenham início em 2026 e que o ramal entre em operação em 2027, com capacidade para transportar 25 milhões de toneladas/ano.
Pioneira na descaracterização de barragem de rejeitos no estado de Minas Gerais, a Cedro tem operações em Nova Lima e Mariana (MG). A companhia já nasceu com estratégia socioambiental, premissa para o crescimento expressivo observado nos últimos anos, ancorado em investimentos em inovação e sustentabilidade.