Projeto para reduzir impactos hídricos de minerodutos será votado na Assembleia de MG

Texto da deputada Carol Caram busca proteger mananciais e cursos d’água que abastecem Belo Horizonte e região

Foto do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais mostra imagem aérea de área afetada pelo rompimento de uma barragem da mineradora Vale, perto da cidade de Brumadinho, em Muinas Gerais, 25 de janeiro de 2019 - Minas Gerais Fire Department/AFP
Foto: AFP

O risco de desabastecimento hídrico nas grandes cidades é uma preocupação crescente. Fatores como o crescimento populacional, a urbanização descontrolada, o consumo indiscriminado de água e as mudanças climáticas fazem com que essa discussão ganhe relevância cada vez maior na sociedade. Em Belo Horizonte, essa discussão ganha contornos dramáticos, devido à atuação das mineradoras na região da capital. Por esse motivo, um projeto de autoria da deputada Carol Caram (Avante) ganha fôlego na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG)

A proposta busca preservar os recursos hídricos da Grande BH, proibindo o licenciamento de minerodutos, especialmente os que se utilizam de enormes quantidades de água. Os minerodutos são grandes estruturas em tubulações, responsáveis pelo transporte de minério das minas até o porto mais próximo.

O Projeto de Lei (PL) 3.402/25, da parlamentar, ganhou parecer favorável da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, e deve ser votado em plenário em breve. O objetivo é preservar o equilíbrio dos ecossistemas e garantir que a sociedade participe ativamente do processo decisório.

A iniciativa da deputada não é a única. Propostas semelhantes, apresentadas pelos deputados João Vitor Xavier (PSDB) e Ana Paula Siqueira (REDE), também buscam impor restrições ao uso indiscriminado da água e proteger áreas estratégicas para a recarga hídrica. No entanto, iniciativas como essas frequentemente esbarram na resistência de mineradoras, que exercem forte pressão política e econômica para flexibilizar as regras do setor.

Risco ambiental

Ambientalistas e especialistas alertam para os riscos significativos dos minerodutos, sobretudo na RMBH, e denunciam práticas das mineradoras que, segundo eles, “beiram a irresponsabilidade criminal”. O histórico do transporte de minério de ferro no Brasil é marcado pelo predomínio das rodovias, um modal que traz consigo problemas como aumento do trânsito, acidentes, poluição e menor eficiência financeira, além de piores indicadores ambientais devido à elevação das emissões de CO2.

Alternativa viável

Em meio ao debate, o transporte ferroviário desponta como uma alternativa eficiente e sustentável. Um único vagão de trem pode transportar até 100 toneladas — mais de três vezes a capacidade de uma carreta padrão, além da redução de custos logísticos e diminuição na emissão de gases tóxicos na atmosfera, como o dióxido de carbono.

As ferrovias oferecem versatilidade, pois não dependem de água para operar, podem transportar diferentes tipos de carga e se integram facilmente a outros modais, como o marítimo e o rodoviário. Os investimentos em infraestrutura ferroviária não só otimizam a logística, mas também impulsionam o desenvolvimento econômico regional, com geração de empregos e estímulo às indústrias locais.

Linha férrea em Serra Azul: novo capítulo

Um exemplo dessa tendência é o projeto do ramal ferroviário ‘Serra Azul’, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com cerca de 26 quilômetros de extensão, a linha irá conectar os municípios de Mateus Leme, Igarapé, São Joaquim de Bicas e Mário Campos à malha ferroviária Sudeste. Assim, o minério extraído na região poderá ser transportado diretamente ao porto do Rio de Janeiro, sem depender de caminhões.

A expectativa é de que cerca de 5 mil veículos de carga, entre carretas e caminhões, deixem de circular diariamente pela BR-381, reduzindo congestionamentos e acidentes. A estrada é conhecida como “rodovia da morte”, registrando mais de 7 mil acidentes nos últimos três anos, sendo 440 fatais.

O projeto, liderado pela Cedro Mineração, prevê investimentos de R$ 1,5 bilhão e deve entrar em operação em 2027, com capacidade para transportar 25 milhões de toneladas por ano. A iniciativa representa um passo decisivo para a diversificação dos modais de transporte em Minas Gerais, reforçando o compromisso do Estado com a sustentabilidade e a eficiência logística

Inovação e sustentabilidade

O presidente do Conselho da Cedro Participações, Lucas Kallas, fundador do grupo, pretende investir R$ 1,5 bilhão na construção dessa miniferrovia. A previsão é que as obras tenham início em 2026 e que o ramal entre em operação em 2027, com capacidade para transportar 25 milhões de toneladas/ano.

Pioneira na descaracterização de barragem de rejeitos no estado de Minas Gerais, a Cedro tem operações em Nova Lima e Mariana (MG). A companhia já nasceu com estratégia socioambiental, premissa para o crescimento expressivo observado nos últimos anos, ancorado em investimentos em inovação e sustentabilidade.