A participação ativa de agentes de saúde na prevenção de doenças pode aumentar os índices de diagnóstico precoce de câncer de mama. É o que aponta um estudo conduzido pela Universidade Federal de Goiás (UFG) que mostrou que a capacitação de agentes comunitárias aumentou a quantidade de mamografias e reduziu a detecção de tumores avançados em Itaberaí, município de Goiás onde se deu o projeto-piloto, em 2022.
A estratégia consistiu em treinar profissionais da atenção primária para que orientassem, durante visitas domiciliares, mulheres com mais de 40 anos a fazerem a prevenção do câncer de mama. Além disso, as agentes comunitárias também receberam treinamento para fazer um rastreio ativo em metade das mulheres visitadas e, com o consentimento das voluntárias, fazer um exame das mamas em busca de lesões sensíveis ao toque.
O grupo de mulheres que participou da intervenção mais ativa acabou descobrindo os tumores em estágios iniciais (um ou dois) em 70% dos casos. No grupo controle, que recebeu as visitas das agentes mas não foi examinado por elas, apenas 30% dos diagnósticos ocorreram nessas fases da doença.
Desde que a pesquisa começou, foram mais de 3 mil mulheres atendidas. Dessas, 15 tiveram um diagnóstico de câncer de mama, sendo 10 delas no grupo de intervenção direta e cinco no de controle. “Esperávamos ao final da nossa pesquisa reduzir em 20% os diagnósticos em casos avançados, mas em pouco tempo chegamos a uma redução de 50%”, destaca o mastologista Ruffo de Freitas Júnior, responsável pelo estudo. Os resultados iniciais foram apresentados na edição de 2025 do encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), maior evento do mundo sobre câncer, realizado nos Estados Unidos em junho.
Para o oncologista Diogo Sales, especialista em tumores femininos do Einstein Hospital Israelita em Goiânia, a iniciativa testada em Itaberaí é importante por fortalecer o diagnóstico precoce, apesar de um maior tempo de seguimento ser necessário “É um estudo ainda muito precoce, poucas mulheres foram diagnosticadas até agora para podermos pensar em mudanças de como rastreamos a população. Mas é, sem dúvida, importante termos em conta os resultados positivos encontrados de se fazer exames com profissionais capacitadas de forma mais ostensiva. Foi uma vitória”, afirma.
Mais chance de cura
Quando se trata do câncer de mama, o ideal é fortalecer estratégias de prevenção para que a doença possa ser identificada antes de manifestar sintomas. “A prevenção mais recomendada é fazer as mamografias, justamente para encontrar lesões antes delas serem sensíveis ao toque. Quanto antes soubermos, melhor podemos tratar e menos risco de morte a paciente sofre”, destaca o oncologista do Einstein.
Casos detectados em estágio inicial têm 95% de chance de cura. “Quanto mais cedo o diagnóstico, maior o sucesso e menores as complicações do tratamento”, afirma Sales. Por isso, mulheres devem estar atentas aos sintomas mais comuns do câncer de mama, que aparecem nos estágios intermediários e graves da doença. Entre eles estão os nódulos palpáveis no seio, alterações na pele ou no volume que gerem assimetrias, retrações do mamilo e aparecimento de secreções.
Durante o acompanhamento feito pelas agentes em Itaberaí, esse tipo de informação foi uma aliada essencial. “As pacientes não se sentiram invadidas, mas apoiadas. Houve um aumento espontâneo nas mamografias de rastreio, que passaram de 4% para 30% no município”, relata Freitas Júnior.
O Ministério da Saúde recomenda que mamografias sejam feitas a cada dois anos a partir dos 50 anos ou caso haja recomendação médica. Porém, algumas sociedades médicas recomendam que o rastreio se inicie aos 40 anos — idade endossada em julho pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que passou a adotar esse parâmetro para o exame.
Pesquisa será continuada
O estudo em Goiás continuará nos próximos anos e deve apresentar mais dados não só sobre detecção, mas também sobre os impactos que o diagnóstico precoce trouxe em redução da mortalidade e eficácia do tratamento.
“Nossa meta de ouro é mostrar nos próximos três anos que o protocolo pode diminuir o tempo até o diagnóstico e aumentar o número de pacientes que, após descobrirem a doença, iniciaram o tratamento dentro do prazo legal de 60 dias, ainda muito desrespeitado no nosso país”, relata o líder da pesquisa.
Não será preciso esperar a conclusão do estudo, porém, para colher os frutos positivos da iniciativa. A experiência goiana tem despertado interesse de outras cidades: há planos para implementar o modelo em caráter experimental em Paragominas (PA), Araguaína (TO), Macapá e Petrópolis (RJ).
A mudança já é perceptível até para as equipes que receberam os treinamentos. Uma das participantes foi a agente de saúde Valdirene Mendonça Gonçalves Pereira, de 54 anos, que considera a capacitação um marco em sua trajetória. “Hoje respondo com confiança as pacientes e transmito isso para elas. Muitas vezes, o que impede a realização dos exames é o medo. Essa sensação de segurança ajudou a aumentar a adesão aos exames preventivos em nossa cidade”, diz a agente comunitária.
Mesmo integrando o grupo controle (que não realizava exames diretamente nas pacientes), ela observou mudanças positivas nas mulheres que visitava. “Percebi que ficaram mais abertas ao diálogo. Passaram a procurar a unidade de saúde por conta própria após conversar com a gente”, relata Pereira. “Agora, percebemos o impacto do nosso trabalho na redução dos casos graves. Saber que contribuí para salvar vidas é motivo de orgulho. Isso mostra que a prevenção realmente funciona e que a atuação na ponta faz diferença.”
Fonte: Agência Einstein
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