Desde 1949, a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu o direito do povo judeu de viver no que, hoje, é o Estado de Israel, após uma longa diáspora e posterior aos horrores vividos por este povo durante a Segunda Guerra Mundial. Na ocasião, calcula-se que mais de 6 milhões de judeus (homens, mulheres e crianças) perderam suas vidas para o nazismo.

No mundo, estima-se que a população judaica seja de, aproximadamente, 14 milhões de indivíduos. No Brasil, o censo do IBGE de 2010 calculou 107.329 judeus – aqui reside a maior comunidade judaica na América Latina e a 11ª maior do mundo. No entanto, acredita-se ainda que cerca de 1/5 da população brasileira tenha alguma ligação genética ancestral com judeus sefarditas.

Um estudo publicado na “Nature”, de autoria do geneticista colombiano Juan-Camilo Chacón-Duque, detectou a presença de marcadores genéticos sefarditas em todas as populações dos países analisados (México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil). Em ao menos 23% das amostras, mais de 5% do material genético era composto de DNA sefardita, mesmo em indivíduos não-judeus. São números que apontam que o fenômeno da migração sefardita não só ajudou a moldar a história do continente, mas também foi elemento constituinte da genética do povo brasileiro.

Por esse motivo, a empresária brasileira Dani Maciel, que reside em Portugal, tem levantado a bandeira da reconexão e redescoberta da identidade dos Bnei Anusim (em hebraico, בן אנוסים ’filhos dos forçados ou filhos dos marranos), que são descendentes dos judeus expulsos da península ibérica (Portugal e Espanha), nos séculos XVI e XVII, por força de Decreto Real. Esse grupo teria migrado em massa para países como o Brasil e a Argentina e forçado a abandonar o judaísmo. “Muitos desses judeus, que eram considerados novos convertidos ao catolicismo, foram para o Brasil ou se mantiveram em segredo na península ibérica, adotando nome e sobrenome diferentes, para conseguirem se manter vivos durante a Inquisição. Hoje, tenho buscado ajudar esses descendentes a redescobrir sua identidade e sua ligação com a Terra de Israel”, ressalta Dani, que se descobriu descendente dos Anusim.

“Encontrei documentos da minha família que comprovam minha origem judaica, minha conexão com essa história, e bem mais perto do que eu imaginava, por ascendência materna. Depois de me reconectar com a minha identidade enquanto descendente de judeus, fui confrontada com a realidade de que milhões de brasileiros e milhares de portugueses e espanhóis têm ascendência judaica, mas a grande maioria dessas pessoas não tem ideia disso. Então, senti um chamado de Deus para falar sobre isso usando a internet e meios de comunicação. Tenho desenvolvido esse trabalho em conjunto com lideranças judaicas e cristãs, afinal, Jesus também era um judeu, observante da Lei de Moisés”, completa.

Retorno para casa

Como consequência, surgiu a inspiração para realizar uma caravana para Israel, com o intuito de proporcionar “uma volta para casa e uma conexão física e espiritual” com a Terra Santa. “Abri a Soultour Biblical e planejei essa caravana por sentir que estamos vivendo o momento que há muito foi profetizado na Tanakh (bíblia hebraica), onde os profetas Jeremias e Isaias dizem que Deus iria reunir os judeus e seus remanescentes na Terra de Israel para um retorno a casa”, acredita.

“Isso vale, inclusive, para aqueles que nem sequer sabiam que pertencem a esse povo, oque inclui, não somente aqueles que têm em seu sangue a hereditariedade dos judeus marranos, sefarditas, mas todos que se consideram filhos pela fé, descendência de Abraão, nosso patriarca”, finaliza.