Projeto ajuda a repovoar vilarejo italiano com imigrantes

SANT’ALESSIO IN ASPROMONTE, 19 ABR (ANSA) – Uma grade pintada com as bandeiras dos países de origem dos imigrantes, como Gana, Eritreia, Senegal, Costa do Marfim e Líbia, dá as boas-vindas aos visitantes que chegam a Sant’Alessio in Aspromonte, pequena cidade de menos de 400 habitantes situada na região italiana da Calábria, bem no “bico da bota”.   

E seriam muito menos não fossem pessoas como a nigeriana Annabel, de 23 anos, refugiada que desembarcou na Itália após a perigosa travessia do Mediterrâneo, que estão ajudando a repovoar o vilarejo. Em meados de 2012, Sant’Alessio in Aspromonte contava com 317 moradores, número que subiu para 357 em 2017.   

Pode parecer pouco, mas esse crescimento representa um aumento populacional de 12,6% em menos de quatro anos. A cidade passou a ser repovoada por meio do Sistema de Proteção para Solicitantes de Refúgio e Refugiados (Sprar, na sigla em italiano), uma rede de acolhimento nascida da colaboração entre o Ministério do Interior, a Associação Nacional das Prefeituras Italianas (Anci) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).   

Sua implantação em cada município depende da capacidade e da vontade das administrações locais, e Sant’Alessio in Aspromonte soube usar o Sprar para fazer com que uma vila de montanha condenada ao esvaziamento – como tantas outras na Itália – voltasse à vida.   

A iniciativa é patrocinada pelo prefeito Stefano Ioli Calabrò, de 43 anos, e coordenada pelo médico Luigi De Filippis, que já trabalhou no atendimento a deslocados externos. “Falamos de sujeitos que vivem, no drama de sua viagem rumo a uma vida melhor, condições pessoais particulares”, explica De Filippis.   

“Mulheres, sobretudo solteiras, grávidas, pais solteiros com filhos menores, pessoas submetidas a torturas, estupros ou outras formas graves de violência psicológica, física ou sexual”, acrescenta.   

Segundo o médico, o projeto prevê uma inserção “programada” dos solicitantes de refúgio no tecido social da cidade. “O ponto central dessa integração, que acontece por etapas, de uma forma não invasiva para a comunidade local, é a convivência recíproca e as oportunidades econômicas que essa presença oferece ao vilarejo. O objetivo é devolver a autonomia a essas pessoas, fornecendo instrumentos e competências para que elas se tornem parte ativa da sociedade italiana”, diz.   

É o caso de Annabel, que quer se tornar “cabeleireira das senhoras” e aceitou participar de um estágio formativo no âmbito do Sprar, que também abriu oportunidades de trabalho para jovens italianos que sofrem com o desemprego – a taxa de desocupação entre cidadãos de 15 a 24 anos gira em torno de 40%.   

Isabella Trombetta, por exemplo, usa sua graduação em relações internacionais pela Libera Università Internazionale degli Studi Sociali (Luiss), de Roma, para ensinar deslocados externos no sul da Itália, a principal porta de entrada na Europa para quem foge de guerras, perseguições e da fome em seus países.   

“Alguns imigrantes foram inseridos nos serviços de manutenção de jardins, e outros estão empenhados em laboratórios de carpintaria, recuperando os bancos de madeira dos espaços públicos”, salienta o prefeito Calabrò.   

As pessoas que participam do projeto ainda ganham alojamento gratuito, assistência sanitária e legal e formação profissional e linguística. “É uma integração que não perturbou o equilíbrio e a tranquilidade da população residente”, conta Angela Spagna, que também coordena a iniciativa.   

Apenas em 2017, mais de 26,8 mil deslocados externos desembarcaram na Itália pela rota do Mediterrâneo Central, e outros 603 morreram ou desapareceram durante a travessia. A maioria dessas pessoas é proveniente da África Subsaariana.   

(ANSA)