Para quem se lembra da antiga cadeia de lojas de departamento Mesbla, que fechou as portas em 1999, a experiência de entrar no mesmo prédio no centro da cidade pode ser um tanto diferente. Após reestruturação, uma longa reforma e a compra do edifício anexo, o prédio vai abrigar o novíssimo Sesc 24 de maio, com inauguração marcada para o dia 19 de agosto. O projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha está localizado na esquina da Rua Dom José de Barros, a poucos metros do Teatro Municipal, da Galeria do Rock, da Praça das Artes, do Viaduto do Chá e da Praça da República.

O prédio inaugurado em 1941 já estava nas vistas do Sesc desde quando a Mesbla faliu em 2001. Segundo o arquiteto, ao visitar o entorno, Rocha sugeriu ao diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda, que também adquirisse o prédio ao lado. “Pensei que poderíamos organizar o edifício principal com as atividades e o anexo com os banheiros, vestiários e depósitos. Essa conveniência deixa o prédio principal com o vazio do desfrute.”

E foi o que aconteceu. No subsolo escavado, um teatro com capacidade de 245 lugares vai receber uma programação de dança, shows e espetáculos. Do lado de fora, um café vai atender o público que aguarda o início do espetáculo. “É um espaço que têm acesso independente do prédio”, explica Rocha. “Se o Danilo quiser fechar tudo às 22h, ele ainda pode deixar o teatro aberto, tranquilamente, até as 4h da manhã”, brincou. “Só se for o Zé Celso (Martinez Corrêa)”, responde Miranda.

O diretor da rede não quis antecipar as atrações, mas informou que a curadoria não vai fugir do estilo Sesc. Ele também negou a informação de que o Sesc 24 de maio seria um centro de criação voltado para as artes cênicas, que convidaria encenadores do Brasil para produzir montagens para a rede. “Vamos seguir com os modelos de produção que já estão consolidados. Algumas mudanças podem ocorrer, mas serão raras”, informou ainda.

Os próximos andares vão abrigar uma praça, aberta entre as duas esquinas e com livre circulação de pessoas, a administração, convivência, restaurante, sala de leitura, exposições, oficinas e odontologia. Aqui, uma pausa para citar os 14 consultórios odontológicos para atendimento ao público. No oitavo piso, voltado para práticas esportivas, a única falta é a de uma quadra, que foi substituída por uma parede de escalada e por aparelhos para ginástica artística e acrobática. “Aqui é a sala de tortura”, brinca o arquiteto. “Vou ficar longe daqui.” Até o momento da visita, a sala era um dos espaços finalizados.

O nono andar abriga mais uma área esportiva, além dos vestiários no anexo. No andar de cima, fica a sala de dança. Além do acesso por elevadores, Rocha projetou diversas rampas para estimular a circulação do público. “Queremos que aqui seja uma extensão da rua, que promova um ritmo de passeio pela cidade.”

No 11.º pavimento, o jardim da piscina oferece mais uma área de convivência, com espelhos d’água e um café. E na cobertura, a tão esperada piscina com capacidade para 400 pessoas só não empolgou tanto durante a visita por conta do dia frio e nublado. Mesmo assim, em meio aos prédios cinzentos do centro, o reflexo azulado no topo já é um destaque visual. “A piscina na cobertura foi um pedido nosso”, conta Miranda. “É a primeira construída assim entre todas as da rede.” O arquiteto explica que, para instalar o tanque de 25 x 25 m, foi preciso demolir uma antiga cúpula da Mesbla e colocar quatro pilares como suporte. “O antigo prédio já tinha algumas colunas, mas não havia como amparar uma piscina nessa altura.” Ao lado do tanque, o anexo ultrapassa a cobertura e anda traz painéis solares para fornecimento de energia para os vestiários e alguns equipamentos.

Além da economia de se ocupar um prédio já construído, Rocha explica que isso faz bem ao perfil de São Paulo. “Ocupação é uma forma nossa de adentrar espaços antigos e abandonados para revitalizá-los. Aqui no centro, temos exemplos como a própria sede da Prefeitura”, conta o arquiteto em referência ao antigo Edifício Matarazzo, ao Palácio do Anhangabaú, que é, desde 2004, sede do governo do município. Até mesmo o jardim na cobertura foi ocupado pelo jardineiro, que o recebeu de presente da família Matarazzo, lembra o arquiteto. “Essa tradição italiana de cultivar jardins inspira o que é a nossa melhor universidade: a vida. Assim, arquitetura é amparar a imprevisibilidade da vida. É a nossa missão.”

Miranda lembra que antes do fim das obras, o novo Sesc também recebeu a ocupação de colaboradores que já trabalharam no local. “Entre 2001 e 2008, realizamos alguns eventos, mostras e oficinas. A equipe do Sesc Carmo também esteve aqui conduzindo a programação”, recorda também.

Agora, a pouco menos de um mês para a abertura do Sesc 24 de Maio, Miranda acrescenta que em 2018 o Estado de São Paulo vai receber mais duas unidades. A primeira é a da Avenida Paulista, aguardada para o primeiro semestre do ano que vem. “Nós queríamos abrir ainda em 2017, mas foi melhor adiar para não atrapalhar o andamento daqui.” Até o fim do ano que vem, as obras na cidade de Birigui, no noroeste paulista, devem estar finalizadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.