Depois da burca, do burquíni e do hijab, a França vive uma nova polêmica sobre o islã, agora sobre a abaya, peça de roupa que cobre todo o corpo e foi proibida nas escolas em nome do secularismo e sobre a qual um alto tribunal deve tomar uma decisão nesta quinta-feira (7).

Muitas vezes incompreendidos no exterior, estes debates abalam um país muito apegado a uma lei de quase 120 anos sobre a separação entre religião e Estado, e marcado por uma relação complexa com o islã e os muçulmanos, herdada especialmente do seu passado colonial.

A volta às aulas em setembro representou um novo episódio com a proibição do uso da abaya nas aulas, fenômeno bastante minoritário.

Os defensores saudaram a medida como um lembrete bem-vindo do secularismo, mas os críticos a consideram uma cortina de fumaça para ofuscar os problemas na educação ou para alimentar a “islamofobia”.

Uma associação muçulmana recorreu urgentemente da medida perante o Conselho de Estado, um alto tribunal administrativo, por considerar que “ataca os direitos da criança”. Sua decisão é esperada para esta quinta-feira.

O debate centrou-se principalmente no suposto caráter religioso da abaya.

Este vestido que cobre todo o corpo, exceto rosto, mãos e pés, é uma vestimenta “tradicional” e não “religiosa”, segundo o advogado da associação, Vincent Brengarth.

Mas para Guillaume Odinet, do Ministério da Educação, permite “identificar imediatamente quem o usa como adepto da religião muçulmana”.

O Conselho Francês de Culto Muçulmano (CFCM), órgão que representa a segunda religião do país, denuncia, por sua vez, “um enésimo debate sobre o islã e os muçulmanos com a sua cota de estigmatização”.

Em 2004, a França proibiu o uso de qualquer sinal religioso ostensivo em escolas e institutos, em um contexto de tensão em torno do véu islâmico.

Seis anos depois, o uso do véu completo em espaços públicos foi proibido, causando polêmica mundial. Em 2016, o uso do burquíni, traje de banho que cobre o corpo e os cabelos, foi proibido em algumas praias.

Em junho, a possível autorização para jogadores de futebol usarem hijab, e que acabou sendo descartada, abalou o país.

A cada polêmica, os partidos de direita, extrema direita e esquerda, exceto a sua ala radical, afirmam querer defender o secularismo.

Este princípio é um pilar da França desde uma lei de 1905 e, segundo os seus defensores, está ameaçado pelo “separatismo” religioso, especialmente relacionado ao islã.

O debate intensificou-se desde a onda de ataques jihadistas que abalou a Europa na última década.

“Vivemos na nossa sociedade com uma minoria de pessoas que, aproveitando-se de uma religião, desafiam a República e o secularismo”, respondeu o presidente francês, Emmanuel Macron, na segunda-feira, a perguntas sobre a abaya.

Segundo uma pesquisa recente, 81% dos franceses aprovam a proibição da abaya nas escolas.

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