Ronald Sergio Pallotta Filho, professor de medicina da Santa Casa de São Paulo, usou uma máscara preta para mostrar aos alunos de 1º ano do curso de Medicina como conversar com pacientes pobres.

O episódio aconteceu na terça-feira (06), e a prática conhecida como “blackface” é considerada racista.

A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo afirmou que repudia a ação de cunho racista e determinou abertura de sindicância.

Na aula de Ronald, os alunos filmaram a tela do computador com a demonstração teatral do professor, que fala de forma jocosa, simulando um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS). “Eu não como essas comidas de fraco aqui do SUS, não, sabe? Eu não como, não. Eu como comida de macho, de macho. Você está entendendo?”, diz Ronald Pallotta na aula.

Os alunos presentes na aula preparam uma representação formal para o Núcleo de Direitos Humanos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Os estudantes também pretendem levar o caso ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).

Segundo os estudantes, o tema da aula era propedêutica, matéria que ensina como a boa relação entre médico e paciente pode facilitar um diagnóstico.

“O paciente não tem conhecimento técnico de um médico, mas é justamente o médico que pode facilitar esse entendimento, uma boa consulta facilita o entendimento do que o paciente está sentindo e permitir que se chegue ao diagnóstico e prescrição do tratamento adequado”, disse um médico residente ao G1.

“Ele dá aula de medicina, de propedêutica, para alunos de 1º e 2º ano e faz uma coisa dessas? Ele também é médico do maior hospital filantrópico da América Latina, será que isso está em concordância com o tipo de atendimento que é feito na Santa Casa?”, falou uma médica residente, que preferiu não se identificar por temer represálias.

Segundo a médica, Ronald é conhecido pela falta de educação no cotidiano com colegas de profissão. “Ele é muito arrogante e autoritário. Não aceita ser questionado, mesmo quando não está sendo questionado, basta fazer alguma argumentação técnica que ele perde a compostura”, contou.

O G1 ainda ouviu um terceiro residente, que relatou abuso de autoridade do companheiro de profissão. “Em um ambiente de pronto-socorro ele exige, da forma mais rude possível, imediatismo em questões burocráticas do atual plantão e de plantões passados. Esse tipo de atitude abusiva e grosseira dele é corriqueira”, falou.

Questionamentos sobre a conduta médica de Ronald Filho foram levados para a Comissão de Residência Médica.