Mundial de Atletismo, Berlim, 16 de agosto de 2009. O recordista mundial dos 100 metros rasos Usain Bolt disputa a final da categoria ao lado do seu maior rival, o americano Tyson Gay. Aos 30 metros, ele já sabe que está indo bem. Aos 60, está certo da vitória. Ao cruzar a linha de chegada em primeiro, mais de um metro à frente de seu principal oponente, ele tinha baixado sua marca em 11 segundos. O recorde mundial de 9,58 segundos dura até hoje. “Para mim, numa corrida tudo se move em câmera lenta”, diz o atleta jamaicano em entrevista para a série de curtas-metragens Greatness Code, que está no ar na Apple TV+. “É a intensidade que realmente me ajuda a diminuir o tempo”, disse Bolt em entrevista ao Estadão, negando ver tudo em câmera lenta. “Preciso saber exatamente o que preciso fazer para vencer naquele momento, porque, se alguém está na frente, preciso dizer a mim mesmo que tenho de ir mais rápido e mais técnico.”

Gotham Chopra, filho do guru de autoajuda Deepak Chopra e sócio de Tom Brady, jogador de futebol americano – e marido de Gisele Bündchen – na produtora Religion of Sports, criou a série depois de perguntar a Kobe Bryant, com quem trabalhou anos atrás, qual seu jogo favorito, e o jogador de basquete citar uma partida obscura. Ao fazer um projeto com LeBron James, repetiu a questão. E, novamente, a resposta era diferente do que esperava. “Eu acho que muitas vezes, para o atleta, é a experiência interna que conta”, disse Chopra ao Estadão. “Talvez seja algo acontecendo na vida dele. Muitos comentam sobre o peso das expectativas. Então eu acho que, para eles, é realmente o que está acontecendo dentro, não necessariamente o maior palco ou a competição mais importante.” Por isso, além das imagens esportivas, a série utiliza animações que tentam recriar esse estado emocional dos atletas.

Os sete primeiros episódios, que duram em média 7 minutos cada, focam em LeBron e Brady, Bolt, a jogadora de futebol Alex Morgan, o campeão de snowboard Shaun White, a nadadora Katie Ledecky e o surfista Kelly Slater. Usain Bolt disse que fazer parte desse grupo foi um presente. “Meu objetivo no atletismo em geral foi sempre estar entre os grandes”, disse o corredor. “Então, para mim, apenas fazer parte disso é maravilhoso, porque mostra que meu trabalho duro ao longo dos anos foi recompensado, e as pessoas reconhecem que sou um dos grandes atletas do mundo.” Não que suas corridas maravilhosas e suas medalhas, títulos e recordes já não demonstrassem isso.

No curta, Usain Bolt destacou que sempre viu as corridas como performances – daí o gesto em forma de raio que virou sua marca registrada e as danças ao final das competições. “A corrida é muito rápida. Sentia que, se tinham me vindo ver no estádio ou estivessem me assistindo pela televisão, eu tinha de oferecer uma apresentação. Por isso, sempre achei que precisava mostrar minha personalidade, me verem como pessoa”, disse Bolt. Não que isso não tenha lhe causado problemas.

Algumas vezes, foi criticado e descrito como um atleta que não levava as coisas a sério. “Mas é quem eu sou. Eu não ia mudar porque é isso que fez de mim um campeão. Precisava relaxar, então isso me ajudou a chegar onde cheguei.” Chopra destacou a energia de Bolt. “Ele é muito importante para seu país e tem uma autoconfiança impressionante”, disse o diretor e produtor, que entrevistou o atleta em sua casa, na Jamaica. “É o homem mais rápido do mundo, então é alguém legal de ter por perto.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.