A produção industrial recuou 1,1% na passagem do segundo trimestre para o terceiro trimestre deste ano, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora tenha esboçado recuperação até meados de 2016, o crescimento não se sustentou, graças à menor demanda doméstica, avaliou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

“Teve crescimento (na produção) até meados de 2016, mas que não era muito consistente. Até esse crescimento na margem da série em setembro é preciso relativizar, porque temos um número maior de atividades com redução na produção. É um avanço calcado em poucos segmentos industriais”, lembrou Macedo.

A produção industrial aumentou 0,5% em setembro ante agosto, mas apenas nove entre os 24 segmentos pesquisados registraram elevação. As atividades de alimentos, extrativa e veículos deram as principais contribuições positivas para o total nacional, evitando nova perda na indústria, após o recuo de 3,5% registrado no mês anterior.

A fabricação de produtos alimentícios avançou 6,4%, as indústrias extrativas cresceram 2,6%, e a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias subiu 4,8%. Todos os três vinham de resultados negativos, ressaltou Macedo.

“O crescimento é concentrado em poucas atividades e ocorre sobre uma base de comparação depreciada”, completou Macedo.

No setor de alimentos, a maior produção de açúcar teve a principal contribuição para o resultado do setor, impulsionada, sobretudo, pelo setor externo, assim como o de papel e celulose. A fabricação de petróleo e gás impulsionou o resultado das indústrias extrativas.

O bom desempenho de veículos automotores no mês foi devido apenas ao retorno à atividade de unidades industriais produtoras de automóveis que tinham sido totalmente paralisadas em agosto, como as da Volkswagen, devido a uma disputa com fornecedor de peças.

Entre os 14 ramos industriais em queda em setembro, os desempenhos de maior relevância foram de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,1%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,7%), produtos de minerais não-metálicos (-5,0%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,2%).

“A perda é disseminada nesses últimos meses. Tem redução de ritmo. E claro que o principal fundamento para explicar essa redução de ritmo é essa diminuição na demanda doméstica”, apontou o gerente da pesquisa.

O pesquisador lembrou que o mercado de trabalho traz mais pessoas desempregadas e redução na renda de quem permanece ocupado. Além disso, o crédito está mais restrito e mais caro.

“Embora a gente observe melhora no ritmo da confiança de empresários e consumidores, isso está muito mais relacionado a expectativas futuras do que ao momento presente da conjuntura econômica. Ou seja, todos os fatores que justificavam a perda de ritmo da indústria permanecem presentes”, acrescentou o gerente do IBGE.

Bens de capital

A produção nacional de bens de capital recuou 4,5% no terceiro trimestre de 2016, ante o mesmo período de 2015. O resultado representa o décimo trimestre negativo consecutivo, embora a retração tenha sido a menos acentuada em todo esse período. No segundo trimestre deste ano, a fabricação de bens de capital tinha encolhido 10,0%.

No terceiro trimestre, houve avanços na fabricação de bens de capital voltados para a agricultura (6,9%) e construção (11,0%), ao mesmo tempo em que transportes reduziu o ritmo de perdas (-5,7%).

“Talvez essa melhora recente de bens de capital voltados para o setor agrícola possa ter relação com o setor externo. No caso de transportes, a queda na produção de caminhões já foi muito mais negativa em períodos anteriores”, citou André Macedo.

Bens de consumo duráveis

A produção de bens de consumo duráveis diminuiu 11,2% no terceiro trimestre ante o terceiro trimestre de 2015. Embora a queda tenha sido menor do que a retração de 16,8% registrada no segundo trimestre do ano, com a ajuda de um recuo menor nos automóveis, a perda para essa categoria de uso ainda é relevante, ressaltou Macedo.

Segundo ele, o mercado de trabalho em deterioração e o crédito caro e escasso mantêm os bens duráveis com queda de dois dígitos.

“Os bens duráveis têm relação direta com o consumo das famílias, com o crédito. Permanece com queda de dois dígitos por causa da retração da demanda doméstica, com o mercado de trabalho enfraquecido, a renda menor, o crédito mais restrito, caro, escasso. Isso tudo tem consequências importantes sobre o comportamento desse grupamento”, justificou Macedo.

A redução no índice de difusão da indústria brasileira, que passou de 48,7% dos produtos investigados com alta na produção em agosto para apenas 41,1% em setembro, é mais um indício de que ainda não há uma retomada clara do setor industrial como um todo, avaliou o gerente do IBGE.

“Claramente você observa um espalhamento de produtos e atividades em queda. Mesmo comparando com 2015, que foi um ano em que a indústria teve comportamento de queda, com recuo de 8,3% na produção (ante 2014)”, ressaltou o pesquisador.