O procurador-geral do estado de Nova York, Eric Schneiderman, que havia defendido publicamente o movimento #MeToo, anunciou sua demissão na segunda-feira (7), horas depois de ser acusado na imprensa de violência contra quatro mulheres.

A notícia representa uma mudança surpreendente na trajetória do democrata, grande opositor de Donald Trump e defensor no âmbito judicial do movimento #MeToo, que luta contra o assédio sexual e foi criado após o escândalo do caso Weinstein.

Schneiderman avaliou que as acusações, que não estão relacionadas com sua atividade profissional, impedem-no de “dirigir a Procuradoria neste período crítico”, e anunciou sua demissão, que será efetiva na noite desta terça-feira.

“Nas últimas horas, fizeram denúncias sérias contra mim, que contestei com firmeza”, declarou Schneiderman.

Uma das assessora de Trump, Kellyanne Conway, retuitou uma mensagem do procurador de outubro de 2017 na qual dizia: “Ninguém está acima da lei, e vou lembrar o presidente Trump e sua administração todos os dias”.

Conway acrescentou em inglês coloquial: “Gotcha”, que se poderia traduzir como “Peguei você”. Trump ainda não comentou a situação.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Em um artigo publicado no site da revista “New Yorker”, duas mulheres denunciaram abertamente Schneiderman, e outras duas fizeram acusações sob anonimato.

Michelle Mannig Barish, uma das supostas vítimas, garantiu ter mantido uma relação com Schneiderman entre o verão (boreal) de 2013 e o final de 2015, enquanto outra mulher, identificada no artigo como Tanya Selvaratnam, revelou um relacionamento com o procurador entre o verão de 2016 e o outono de 2017.

As duas mulheres afirmam que foram agredidas por Schneiderman, ex-senador democrata, em várias ocasiões quando ele estava sob o efeito de bebidas alcoólicas, incluindo estrangulamentos, no que entenderam como uma tentativa de dominá-las física e psicologicamente.

Schneiderman, segundo as denunciantes, as ameaçava de morte, caso abandonassem a relação.

Selvaratnam, nascida no Sri Lanka, assegurou à revista que Schneiderman a chamou de “sua escrava” e “cortou a minha respiração”.

“Na intimidade de relações privadas, participei de jogos e de outras atividades sexuais consentidas”, afirmou Schneiderman em um comunicado.

“Não agredi ninguém e jamais mantive relações sexuais não consentidas”, insistiu.

As mulheres afirmaram que em nenhum momento consentiram, ou pediram a Schneiderman este tipo de tratamento.

O governador de Nova York, o democrata Mario Cuomo, pediu a renúncia do procurador.

“Minha opinião pessoal é que, observados os fatos mencionados no artigo, não é possível que Eric Schneiderman continue servindo como procurador”, disse.

Procurador desde 2010, Schneiderman se tornou um dos oponentes mais ativos do presidente Donald Trump e promoveu várias ações legais contra medidas da administração federal ligadas ao clima, à imigração e à neutralidade na Web.


Em fevereiro, o procurador apresentou uma ação judicial contra o ex-produtor de Hollywood Harvey Weinstein e sua empresa por fracassar na proteção de seus funcionários e por agressões sexuais.

Weinstein foi acusado de assédio e agressão sexual por mais de 100 mulheres.

Um dos autores do artigo na “New Yorker” é o jornalista e escritor Ronan Farrow, filho de Mia Farrow e Woody Allen, e recente ganhador do prêmio Pulitzer por sua matéria sobre Weinstein.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias