Mais de um milhão de fiéis participaram nesta quarta-feira em Manila na procissão anual do “Nazareno Negro”, na esperança de tocar a imagem, dotada, de acordo com a tradição, de poderes miraculosos, numa das manifestações mais impressionantes do culto católico.

Segundo dados da polícia filipina havia mais de um milhão de pessoas.

Os fiéis se amontoavam tentando alcançar a imagem, transportada sobre uma plataforma metálica ao longo de sete quilômetros pelas ruas estreitas da capital das Filipinas, convencidos de que pode curar doenças e trazer boa sorte.

“Sobrevivi a um derrame cerebral graças a ele [Deus]. Farei isto todos os anos até completar 100 anos”, declarou Joaquin Bordado, de 70 anos, que comparece a esta procissão há décadas.

“Deus me ordenou fazer isto e não me sinto cansado”, acrescentou, vestido com uma túnica até os tornozelos e segurando uma cruz feita de arame farpado.

Em volta dele, as pessoas cantavam “Viva Nazareno!”, aplaudindo e tentando tocá-lo, ou tirando fotos com a imagem do Cristo.

– ‘Um ritmo de paz’ –

Os fiéis, alguns descalços como penitência, trepavam uns sobre os outros para tentar tocar com panos a imagem, cujo nome se deve a sua cor escura.

Segundo a lenda, a imagem sobreviveu a vários incêndios (como o do navio que a transportava do México no século XVII), a terremotos e ao bombardeio de Manila em 1945.

O chefe da polícia filipina Oscar Albayalde afirma ter mobilizado 7.000 agentes para garantir a segurança do evento. As redes de telefonia móvel foram cortadas para impedir a detonação de bombas a distância.

As autoridades não informaram de uma ameaça específica mas o arquipélago é palco de várias insurreições que provocaram atentados contra civis.

Horas depois do início da procissão, a Cruz Vermelha anunciou que havia quase 220 feridos, alguns vítimas de tonturas ou de cortes. A cada ano, centenas de pessoas ficam feridas, e às vezes há inclusive mortos.

“Participar da procissão é muito perigoso. Quando você vê as pessoas se empurrando é muito estressante”, declarou Angelica Alcantara, estudante de 21 anos.

“Muitos jovens fazem isso por diversão mas [este ato] trata da fé em Deus”, acrescentou.

A procissão dura cerca de 20 horas. Alguns consideram que se assemelha demais à idolatria e que representa um risco desnecessário para as pessoas.

Os funcionários eclesiásticos afirmam, porém, que se trata de uma expressão da fé em um país de 105 milhões de habitantes, em sua maioria cristãos.

“Quando você vê isso de fora, não vai escutar, ver ou sentir essa fé. Só vai ver caos”, disse o padre Danichi Hui, pároco na igreja Quiapo, onde a procissão termina. “Mas dentro há um ritmo de paz. Há serenidade”.