Quatro de julho, o dia da independência dos EUA, foi marcado por outra tragédia envolvendo armas. Robert Crimo, 22 anos, armado com um fuzil, abriu fogo contra a multidão que acompanhava um desfile em Chicago, matou 7 pessoas e feriou outras dezenas. Já são 309 tiroteios em massa somente este ano. Fundado sobre cadáveres de índios e extrema violência racial contra negros, o país reluta, até hoje, em abrir mão do direito ao porte irrestrito de armas garantido pelos fundadores da nação em 1788.

A cultura da violência americana é difícil de combater.

Esforços no sentido de dificultar  o acesso a armas e munição são pífios e não têm surtido efeito. Recentemente, a Suprema Corte, dominada por juízes conservadores, decidiu derrubar limites para o porte de armas fora de casa, reforçando a ideia do “cada um por si”, na contramão do esforço civilizatório da não violência. Seguindo o caminho do retrocesso, o Brasil também tem dado seus passos para trás com o esfacelamento do Estatuto do Desarmamento conduzido por Jair Bolsonaro. O governo atua contra o desejo de 7 em cada 10 brasileiros que discordam de sua política armamentista. Mas, há um setor feliz com o afrouxamento. A indústria armamentícia comemora o aumento exponencial de vendas e, claro, dos lucros! De acordo com o Instituto Igarapé, desde o início do atual governo, a indústria de armas e munições no Brasil (que se resume basicamente a três empresas:

Taurus, Imbel e CBC) cresceu mais que o mercado internacional, atingindo uma média anual de 32,2%. Os lucros, a propósito, são contabilizados na casa dos bilhões.

Brinquedos letais, no entanto, custam caro para o brasileiro comum.

O Brasil também tem socialmente regredido com o esfacelamento do Estatuto do Desarmamento

Uma pistola Taurus calibre 38, das mais comuns no mercado, chega a custar aproximadamente R$ 5 mil, isso sem contar despesas com munição e licenciamentos. O tal “direito à defesa pessoal” tão apregoado pelos armamentistas trata-se, na verdade, de um privilégio concedido aos poucos que podem pagar por ele.

Esquecem que defesa pessoal nãoé segurança pública, essa sim, de responsabilidade exclusiva do Estado, que não pode dela se eximir sob qualquer pretexto. Armar a população é apostar no caos. Em qualquer situação, arma não é defesa. É ataque, ou, no mínimo, contra-ataque. Não se faz paz com armas. Faz-se medo e desconfiança. Faz-se mortos e feridos e mutilados. E para um grupo muito restrito de senhores, faz-se fortunas. Nem ataque nem contra-ataque. A melhor defesa será sempre a civilidade.