Tá tudo muito bem, tá tudo muito bom, mas cadê a resposta em forma de penas severas por incitar sua turba de alucinados e pregar abertamente um golpe? As provas da influência direta que exerceu nos atos terroristas do último dia 8 são caudalosas. Jair Messias Bolsonaro é mentor e inspirador dos eventos que espalharam caos, quebradeira e barbárie em Brasília, no coração dos Três Poderes. Em qualquer lugar do mundo seria levado, sem pestanejar, à prisão por crimes, seguidos, de responsabilidade. O mundo político hesita nesse sentido. Teme, assim, fortalecê-lo ainda mais, dando a ele a aura de um mártir da causa. Qual causa? A de herói da anarquia? Da desestabilização e de movimentos antidemocráticos? Por aí. Algo que caberia apenas a pretensos ditadores, como ele dá todas as indicações de querer ser. O capitão, por sua vez, se faz de rogado. Exilado temporariamente nos EUA, enquanto não é despachado de lá com a expiração da validade do visto de autoridade, vai tentando se livrar das acusações de envolvimento. Disfarça, manifestando uma providencial indignação com os episódios recentes. Jogo de cena, evidente. Deleitou-se com o ocorrido, enxergando ali uma eventual chance de retorno triunfal ao Planalto. Está, na verdade, cada vez mais distante disso. De uma maneira ou de outra, Bolsonaro vai trilhando rapidamente o atalho para a inelegibilidade. Perde apoios e condições mínimas de liderança diante de táticas e ações tão tresloucadas. O próprio capo do partido PL, o ex-mensaleiro Valdemar da Costa Neto, que lhe dá guarida, decretou o seu fim em conversa recente com correligionários, após o desfecho escabroso da intentona Planaltina. “Bolsonaro acabou”, teria dito, mostrando a completa frustração com os métodos nada ortodoxos do ex-mandatário. O PL não quer levar a pecha de golpista. Havia enfaticamente aconselhado o protegido a serenar o discurso, aplainar os ânimos e a dispersar as concentrações de manifestantes apoiadores. Não foi ouvido e deu no que deu. Aquele caldeirão de adoradores fanatizados, típico de seita, estava prestes a explodir. Transbordou, promovendo uma baderna indescritível. E o PL não quer estar misturado a nada disso. Ao contrário. Seus filiados mostram pavor da ideia de serem considerados membros de uma legenda antidemocrática. Equivaleria, decerto, a um contrassenso sem tamanho, a própria negação da viabilidade como sigla política. Agora o PL quer mudar o rumo. Desembarcar de vez e esquecer Bolsonaro. Focar esforços no Congresso Nacional para ganhar musculatura nas negociações com o governo Lula. Tenta emplacar um candidato à presidência do Senado, o ex-ministro do Desenvolvimento, Rogério Marinho. O desgarrado vilão Messias, mito de outrora, enfrenta, por sua vez, nada menos que 16 processos que começam a correr a partir de fevereiro próximo. Está formalmente sendo investigado por envolvimento e, como já avisado pelos magistrados, os executores, incitadores, financiadores e autoridades metidas nessa lambança serão severamente punidos. É aguardar. O mundo inteiro espera por condenações exemplares, que afastem qualquer risco de repeteco de arruaças do tipo em outras partes do planeta. Claramente, no já infame 8 de janeiro, foi buscada a violação do Estado de Direito. De forma espúria, um pretenso soberano tentou se eternizar no poder. Há evidências variadas. A minuta de decreto de um golpe, encontrada logo na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, talvez seja a mais contundente dessa conspiração. Torres e seus asseclas elaboraram – naturalmente a mando superior – um esboço de ataque à Constituição, sem qualquer fundamentação jurídica aceitável, e trabalharam abertamente nesse sentido. Mesmo antes das eleições, quando buscavam embaraçar a mobilidade de eleitores em locais estratégicos de votos do opositor Lula. Foram tantas as aberrações que o mesmo Torres – preso de forma preventiva – estava oportunamente como secretário de Segurança da Capital Federal naquele dia 8 e resolveu destituir os chefes policiais, partindo para os EUA, deixando Brasília acéfala, como palco ideal para a baderna que dominou a cena. Coisa de quadrilha. E o chefe, inegavelmente, todos sabem quem é. O ex-presidente Bolsonaro precisa, imediatamente, responder por seus atos e consequências. A sua impunidade ameaça a República, quebra a institucionalidade e corrói a democracia. Não é de hoje que o capitão atenta contra o País, promove o ódio e a desconfiança (infundada) no sistema. Assumiu a carapuça de maior inimigo público do “Ordem e Progresso” que estampa a nossa bandeira. De bom augúrio é o fato de estar sendo frito pelo próprio fogo que tentou atear na Praça dos Poderes.

Procuradores já estudam a possibilidade da Advocacia-Geral da União (AGU) apresentar uma ação judicial contra ele, caso a PGR (teoricamente rendida aos seus caprichos, por intermédio do atual titular) não o faça. De uma maneira ou de outra, o cerco se monta. Mais do que na hora de Messias pagar pelos seus pecados.