A americana que acusa o príncipe Andrew de ter abusado dela quando era menor de idade pela rede de tráfico sexual do financista Jeffrey Epstein entrou com um processo em Nova York, na segunda-feira (9), contra o membro da realeza britânica.

A denúncia traz o caso de volta à tona, particularmente doloroso para a monarquia britânica, originado pelos vínculos do segundo filho da rainha da Inglaterra com o falecido empresário americano acusado de tráfico de menores. Por causa deste escândalo, Andrew se retirou da vida pública.

Na denúncia, apresentada no tribunal federal de Manhattan e vista pela AFP, Virginia Giuffre afirma que o duque de York é “um dos homens poderosos”, a quem ela foi “entregue para fins sexuais”.

Os fatos ocorreram entre 2000 e 2002, quando a denunciante tinha 16 anos, por meio da extensa rede de tráfico sexual que levou Epstein a ser preso. O financista cometeu suicídio em uma prisão de Manhattan, no verão de 2019.

Um porta-voz do Palácio de Buckingham se recusou a comentar a denúncia, e uma empresa de relações públicas que representa o príncipe enviou a mensagem “Sem comentários” nesta terça-feira para a AFP.

“Responsabilizo o príncipe Andrew pelo que me fez. Os ricos e poderosos não estão isentos de prestar contas. Espero que outras vítimas vejam que é possível não viver no silêncio e no medo”, disse Virginia, em uma declaração veiculada pelos meios de comunicação.

“Não foi uma decisão tomada de ânimo leve. Como mãe e esposa, minha família vem em primeiro lugar. Sei que esta ação me sujeitará a novos ataques do príncipe Andrew e de seus representantes legais”, acrescentou.

Na denúncia, Giuffre alega que os abusos ocorreram na casa londrina de Ghislaine Maxwell. Esta mulher seria responsável por fazer amizade com as meninas, ir às compras e ao cinema com elas, antes de convencê-las a fazer massagens nuas em Epstein. Os atos sexuais aconteciam na sequência, durante estes encontros.

“Epstein, Maxwell e o príncipe Andrew forçaram a reclamante, uma menina, a fazer sexo com o príncipe Andrew contra sua vontade”, diz o documento.

Giuffre, agora com 38 anos, também afirma que Andrew abusou dela na mansão de Epstein em Nova York, assim como em Little St. James, a ilha particular do financista nas Ilhas Virgens.

Em abril passado, no tribunal, Maxwell se declarou inocente da acusação de recrutamento de meninas menores de idade para Epstein.

O príncipe, de 61 anos, também negou as acusações, em entrevista concedida à BBC em novembro de 2019. O membro da realeza britânica chegou a expressar dúvidas sobre a autenticidade de uma foto, na qual aparece com Virginia e, ao fundo, Ghislaine Maxwell. Esta última segue presa pelo caso Epstein.

Apesar de seus desmentidos, a associação de Andrew ao empresário americano o obrigou a se retirar da vida pública.

Em junho de 2020, o promotor federal de Manhattan Geoffrey Berman, que ainda estava encarregado da investigação, acusou o príncipe Andrew de fingir cooperar com os tribunais.

Os advogados do duque de York alegaram que seu cliente havia proposto três vezes dar seu depoimento.

A denúncia foi apresentada no tribunal federal de Manhattan, amparada por uma lei estadual sobre vítimas menores, que deu mais um ano para prosseguir com uma ação de agressão sexual, independentemente de quando os incidentes ocorreram. A lei, que entrou em vigor em agosto de 2020, ainda dá às vítimas potenciais alguns dias para apresentarem seus casos.

O caso constitui uma crise para a monarquia britânica, ainda mais abalada pela partida para a Califórnia do príncipe Harry, neto da rainha Elizabeth II, e de sua esposa, Meghan, e por suas acusações de racismo e de abuso.