A polícia seguia a pista de “uma sabotagem local” na investigação sobre as explosões que deixaram quatro mortos nas últimas horas na Tailândia. Os especialistas cogitavam outras três hipóteses.
– Política –
Para Thitinan Pongsudhirak, cientista político independente da universidade de Chulalongkorn de Bangcoc, “o mais provável é que sejas as forças políticas que perderam o referendo” de domingo passado na Tailândia.
A polêmica nova Constituição foi adotada em referendo, em um contexto de fortes restrições das liberdades públicas. A junta militar havia proibido fazer campanha pelo não, sob ameaça de penas de prisão.
Os partidários da ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra, deposta pelos militares em 2014, denunciaram que o regime manipulou a consulta popular ao não permitir o debate.
Mas Yingluck pediu aos seus simpatizantes, sobretudo aos chamados Camisas Vermelhas, que acatassem o resultado e se concentrassem nas legislativas previstas para 2017. Também condenou os atentados.
O fato de os atentados terem sido cometidos nesta sexta-feira, aniversário da rainha Sirikit da Tailândia, parece um desafio lançado ao exército, que tomou o poder em 2014 em nome da proteção da monarquia.
– Conflito separatista muçulmano –
“Os culpados são provavelmente grupos rebeldes que combatem o Estado tailandês no extremo sul” do país, especula Paul Chambers, especialista americano no exército.
Os separatistas do extremo sul da Tailândia dominam as técnicas de detonação de bombas à distância e os dispositivos de duplos artefatos para provocar o maior número possível de vítimas.
Nos dois anos em que os militares estão no poder não há soluções à vista para o conflito, que deixou milhares de mortos em uma década de confrontos.
O porta-voz policial Krissana Pattanacharoen disse nesta sexta-feira que havia semelhanças entre as bombas de fabricação caseiras usadas nos últimos atentados e as detonadas com frequência pelos rebeldes no extremo sul. Não especificou quais.
O ministro da Defesa, Prawit Wongsuwon, rejeitou esta hipótese. “Estas bombas não estão relacionadas aos distúrbios no extremo sul” da Tailândia, afirmou Prawit.
Se esta pista for confirmada, seria a primeira operação de envergadura dos rebeldes fora das províncias do extremo sul, onde operam.
Por enquanto não parecem vinculados ao terrorismo islamita internacional.
– Defensores dos uigures –
Há um ano uma bomba deixou 20 mortos no centro de Bangcoc. Foi o atentado mais mortífero da Tailândia.
Os dois principais suspeitos são chineses da etnia muçulmana uigur, que se considera perseguida por Pequim. O julgamento começará em Bangcoc em 23 de agosto.
Piyapan Pingmuang, porta-voz da polícia nacional, disse nesta sexta-feira que é examinado um possível vínculo entre os dois atentados. “Acredito que a equipe de investigadores está levando isso em consideração”, declarou.
Em relação ao atentado de 2015, as autoridades tailandesas evitam mencionar oficialmente a pista uigur, por medo de contrariar Pequim, afirmam os analistas.
Assim como nas explosões da noite de quinta-feira, falam de pistas locais.