Tendo surgido no século XVIII nos Estados Unidos, a maçonaria Prince Hall chegou ao Brasil em 2022 e se estabeleceu em São Paulo (SP), na Baixada Santista, e em Extrema (MG) com o intuito de promover amor fraternal e amparo entre os maçons negros e seus simpatizantes, que não se sentiam incluídos em organizações maçônicas predominantemente brancas.
O past grão-mestre (termo usado para nomear uma figura que já o ocupou o cargo de Grão-Mestre numa Grande Loja Maçónica, mas que já não o exerce) Alexandre Arantes, da Prince Hall, conta que a ideia de estabelecer a ordem no País já vinha de um grupo de maçons negros há alguns anos, mas foi apenas em 2022 que foi feito um contato com a Grande Loja Nacional Prince Hall dos EUA.
A ordem foi fundada por Prince Hall, um afro-americano abolicionista e ativista dos direitos civis, em 1784. A Grande Loja Nacional da maçonaria Prince Hall foi estabelecida em 1847, nos EUA, sendo chamada atualmente de PHO.
Ao longo do século XIX, divergências entre a organização e lojas maçônicas estaduais afiliadas fizeram com que surgissem oficinas independentes que passaram a ser conhecidas como PHA.
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Segundo Arantes, a ordem recebeu uma carta que autorizava seu funcionamento durante uma visita de americanos da PHO ao Brasil, em 20 de agosto de 2022. O maçom explica que inicialmente, três lojas formaram a Grande Loja Prince Hall São Paulo, mas atualmente há seis oficinas no País. A fundação da organização também contou com a presença de membros brancos.
O past grão-mestre explica que, apesar da maçonaria brasileira ter se envolvido com a abolição da escravatura, nunca houve uma inclusão da população negra nas lojas maçônicas, que se tornaram majoritariamente brancas. “É um movimento da classe média negra. Muitos passaram a se reunir e se conhecer a partir da Grande Loja Prince Hall São Paulo”, comenta.

O past grão-mestre da maçonaria Prince Hall no Brasil (Crédito: Divulgação/Maçonaria Prince Hall)
Adriano Marcos Gonzaga, de 48 anos, empresário do ramo de confecção e venerável mestre da loja Luiz Gama, da Prince Hall, em São Paulo (SP), conta que conheceu a ordem em 2015 e ficou encantado pela organização por ela envolver a música negra dos EUA nos rituais. “Me chamou muita atenção a forma como eles se comportam dentro da loja.”
O empresário explica que demorou cerca de um mês entre o primeiro contato com a Grande Loja Nacional Prince Hall dos EUA e a assinatura da carta que autorizou o funcionamento da ordem no País. “Eles entendem que o Brasil é um ponto de partida para o restante da América do Sul”, aponta Gonzaga.

Adriano Gonzaga, venerável mestre da Loja Luiz Gama (Crédito: Arquivo Pessoal)
O venerável mestre da loja Luiz Gama aponta que um dos objetivos da ordem é estabelecer no País um dos maiores pontos de Prince Hall fora do território dos Estados Unidos, mas apesar de já terem oficinas em dois estados, há algumas dificuldades de expandir a maçonaria. “Falta de conhecimento, primeiramente, não ter um objetivo ainda claro e, acredito que assim, falando do homem negro, ainda não compreenderam que é fácil de acessar”, comenta.
Quem pode fazer parte da Prince Hall?
Segundo Gonzaga, os requisitos para alguém entrar na Prince Hall são similares aos da maçonaria convencional. “Precisa ter mais de 21 anos e uma fonte de renda, um trabalho que dê a condição de pagar as mensalidades e a iniciação”, explica o venerável mestre da Loja Luiz Gama, acrescentando que não é exigida formação acadêmica.
Arantes relembra que a ideia da Prince Hall não é ser exclusiva para negros e não visa “combater a maçonaria de brancos”, mas agregar na inclusão ao universo maçônico. “Ela vem para que a filosofia maçônica esteja disponível para uma parcela da população que não a alcançaria em ‘situações normais'”, aponta o past grão-mestre.
O maçom conta que nunca houve nenhuma demonstração de preconceito racial direcionada contra a Prince Hall, mas que, na realidade, há um desconhecimento sobre a ordem entre outros grupos maçons, apesar dela ser muito antiga.
“A maçonaria tem uma mística, vamos dizer assim, de que a pessoa precisa ser rica para entrar. Na verdade não é”, ressalta Gonzaga. O empresário aponta que é preciso “ter uma mente aberta” e estar “nu com seus preconceitos” para entrar na ordem.
Ainda, a Prince Hall não impede a entrada de pessoas divorciadas ou exige que um interessado seja casado civilmente. “Nós temos muitos que são motoristas de Uber e pedreiros, inclusive”, conta Gonzaga.
Pessoas interessadas podem obter mais informações sobre a ordem no site da Prince Hall.
“Acredito que sem a maçonaria, parte da minha postura, do meu comportamento, eu não conseguiria alcançar. Ela é uma escola de líderes”, relata Gonzaga, acrescentando que a organização tem o objetivo final de estabelecer no ser humano um livre pensamento sem estruturas de preconceito e arrogância.
**Estagiário sob supervisão