Um primeiro comboio de ajuda humanitária entrou neste sábado (21) na Faixa de Gaza, horas antes de a ONU pedir um “cessar-fogo humanitário” do conflito, que começou há duas semanas com o violento ataque do movimento palestino Hamas contra Israel.

Correspondentes da AFP observaram que os primeiros 20 caminhões passaram pelo posto de Rafah, na fronteira com o Egito, e entraram na Faixa de Gaza, um enclave palestino que está cercado desde que Israel declarou guerra ao grupo islamista Hamas, que governa o território.

O posto de Rafah, no entanto, voltou a ser fechado logo após a passagem dos caminhões, relataram testemunhas à AFP.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que os cidadãos de Gaza precisam de “muito mais” e pediu um “cessar-fogo humanitário” para “acabar com o pesadelo” durante uma “Cúpula da Paz” no Cairo, que teve a participação de políticos e ministros das Relações Exteriores de países árabes e ocidentais.

No entanto, o Exército israelense anunciou neste sábado que pretende “intensificar” os bombardeios sobre Gaza, onde 2,4 milhões de habitantes vivem sem comida, combustível, água ou eletricidade.

O Hamas executou um ataque violento a partir da Faixa de Gaza contra o território israelense em 7 de outubro, uma ofensiva que matou mais de 1.400 pessoas, a maioria civis, que foram baleados, queimados vivos ou mutilados, segundo as autoridades de Israel.

Os bombardeios de represália de Israel contra o enclave palestino mataram pelo menos 4.385 pessoas, em sua maioria civis, segundo último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde do Hamas, que controla o território desde 2007.

– Divergências –

Com o início da terceira semana de conflito, as organizações humanitárias apoiam o apelo de Guterres por um aumento de ajuda.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou o “primeiro passo para aliviar o sofrimento de pessoas inocentes” em Gaza.

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, também comemorou o envio de ajuda e instou “todas as partes” a deixarem aberta a passagem de Rafah.

Mais de 100 caminhões com ajuda humanitária aguardam para entrar na Faixa de Gaza, assim como dezenas de pessoas com passaportes estrangeiros esperam do lado palestino a oportunidade de entrar no Egito.

A ONU também reiterou o apelo por uma “libertação imediata e incondicional” de todas as pessoas sequestradas pelo Hamas, depois que duas reféns americanas, mãe e filha, foram liberadas na sexta-feira com a mediação do governo do Catar.

O movimento palestino mantém mais de 200 pessoas em cativeiro.

Os esforços diplomáticos para evitar uma escalada regional são cada vez mais intensos, como com a cúpula organizada pelo presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi.

Entretanto, as discussões tropeçaram em dois pontos: os países árabes se negaram a assinar a “clara condenação do Hamas” e o “apelo à libertação dos reféns” exigido pelos ocidentais, explicaram à AFP diplomatas árabes que pediram anonimato.

Dessa forma, a cúpula terminou sem um comunicado conjunto. A Presidência egípcia se limitou a publicar uma declaração que critica “uma comunidade internacional que mostrou, nas últimas décadas, sua incapacidade de encontrar uma solução justa e duradoura para a questão palestina”.

Na reunião, o rei da Jordânia Abdallah II e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, pediram um “cessar-fogo” entre Israel e Hamas, assim como uma “solução” para os 75 anos de conflito israelense-palestino.

“Não vamos embora” das terras palestinas”, declarou Abbas, uma posição apoiada por Egito e Jordânia, em resposta à fuga dos habitantes de Gaza para o sul do território após as advertências de Israel.

Ao menos um milhão de moradores do enclave foram deslocados de suas casas para fugir dos bombardeios, segundo a ONU.

– Mais bombardeios –

As tropas israelenses continuam concentradas ao redor de Gaza em preparação para uma ofensiva terrestre, e neste sábado, o Exército informou que tem a intenção de intensificar seus ataques.

“A partir de hoje intensificaremos os bombardeios”, informou o general Daniel Hagari, porta-voz do Exército de Israel.

O ministro da Defesa, Yoav Gallant, já havia estabelecido como objetivo da guerra “encerrar as responsabilidades” de Israel em Gaza.

Entre os possíveis cenários, Israel considera “entregar as chaves” da Faixa de Gaza a um terceiro país, como o Egito, informou à AFP uma fonte do Ministério das Relações Exteriores.

“Tenho medo (…) de que isto provoque uma segunda Nakba” (catástrofe em árabe), afirmou, em Gaza, Omar Ashur, general da reserva, em referência à expulsão de quase 760.000 palestinos após a criação do Estado de Israel em 1948.

O governo dos Estados Unidos mobilizou dois porta-aviões no Mediterrâneo leste para dissuadir possíveis ações do Irã ou do grupo libanês Hezbollah, ambos aliados do Hamas.

Na madrugada de sábado, o Exército israelense anunciou que atacou alvos do Hezbollah no sul do Líbano. Dois combatentes deste grupo morreram, afirmou o movimento islamista. Em Israel, dois agricultores tailandeses ficaram feridos, segundo serviços de emergência.

A tensão também é elevada na Cisjordânia ocupada, onde mais uma pessoa morreu durante a noite em confrontos com o Exército israelense perto de Jericó. Ao menos 84 palestinos faleceram desde o início da guerra na Cisjordânia, segundo o Ministério palestino da Saúde.

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