“Sinta-se orgulhosa, Turquia!”. O voo previsto do primeiro astronauta turco à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) é motivo de orgulho para o país e também reflete as ambições de seu presidente.

Alper Gezeravci, piloto de caça de 43 anos, prepara-se para decolar para a ISS de Cabo Cañaveral, na Flórida, para uma missão de 14 dias.

Sua partida foi adiada por 24 horas para as 00h49 de sexta-feira (19), horário da Turquia (18h49 de quinta, horário de Brasília) “para realizar verificações técnicas”, anunciou o ministro da Indústria turco, Mehmet Fatih Kacir, que está na Flórida, à frente de uma importante delegação oficial.

O coronel Gezeravci chegará à estação junto com o americano de origem hispânica Michael López Alegría, o italiano Walter Villadei e o sueco Marcus Wandt a bordo de um ônibus espacial privado da empresa Axiom, que realiza sua terceira missão em aliança com a NASA.

Foi o próprio presidente Recep Tayyip Erdogan que apresentou Gezeravci em plena campanha eleitoral, em maio de 2023, e, na semana passada, lembrou a importância desse voo para o país.

“Estamos a caminho de alcançar nosso objetivo de enviar um dos nossos cidadãos para o espaço. Sinta-se orgulhosa, Turquia!”, disse o chefe de Estado, detalhando que o astronauta fará 13 experimentos preparados por universidades turcas.

Esses primeiros passos no espaço chegam no momento certo para o presidente, que deseja colocar seu país no cenário internacional, mas cujas ofertas de mediação não encontraram o sucesso esperado – nem entre Rússia e Ucrânia, nem entre Israel e o Hamas.

Marc Pierini, diplomata e pesquisador do centro Carnegie Europe, considera essa primeira missão de um astronauta turco “um verdadeiro sucesso”, embora tenha esclarecido que “não tem nada a ver com a capacidade da Turquia de ser um ator influente na agenda política mundial”.

– “Acontecimento histórico” –

“As flutuações de sua política externa não dão a Ancara qualquer esperança de desempenhar um papel importante no cenário internacional”, comentou o analista.

Nesse sentido, citou os obstáculos impostos pela Turquia à Otan, que não aprovou a entrada da Suécia na Aliança Atlântica, sua ambiguidade em relação ao conflito na Ucrânia – no qual busca apaziguar ambas as partes – e seu apoio ao Hamas na guerra contra Israel, que classifica como um “Estado terrorista” por sua ofensiva em Gaza.

A Turquia executa, no entanto, um programa espacial sério com seus satélites e sua agência espacial, criada em 2018.

“Esse acontecimento histórico permitirá validar os objetivos tecnológicos e galvanizará o orgulho nacional do povo turco”, celebrou Halit Mirahmetoglu, diretor do Centro Espacial e de Aviação Gühem, localizado em Bursa (oeste).

“Também lançará uma nova era de inovação científica e colaboração internacional”, antecipou.

O envio do primeiro turco à ISS é o primeiro dos dez objetivos da estratégia espacial turca apresentada em 2021, lembrou o funcionário, enquanto viajava para a Flórida.

O país é conhecido há anos por seus drones de combate eficientes e baratos, e Mirahmetoglu insiste na “interconexão das indústrias de aviação, espaço, defesa e informática”.

A Turquia quer fazer parte das potências espaciais: já sabe “conceitualizar, construir e administrar as operações de seus satélites geoestacionários e de órbita baixa”, e pretende ir mais longe, rumo a um “ecossistema espacial” completo.

“O campo da exploração espacial, durante muito tempo reservado ao clube dos países desenvolvidos, se abre agora para os países emergentes. Agora é a vez da Turquia de aderir ao clube dos grandes”, concluiu Mirahmetoglu, com entusiasmo.

Quanto ao herói do dia, Gezeravci sabe o peso simbólico de sua missão e diz estar disposto a “levar os sonhos do povo turco às profundezas do espaço”.

“Essa viagem não é um fim em si mesmo para nós, mas um meio para alcançar os objetivos dos nossos estudos espaciais”, disse ele à agência oficial de notícias Anadolu.

Segundo a NASA, a ISS recebeu mais de 275 astronautas, em geral para uma estada de vários meses.

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