O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, denunciou nesta quinta-feira (25) uma tentativa de golpe de Estado militar e liderou uma marcha de simpatizantes para reafirmar sua autoridade, enfraquecida pela derrota do Exército do país para o Azerbaijão em Nagorno Karabakh.

“Como primeiro-ministro eleito, estou ordenando a todos os generais, oficiais e soldados: façam o seu trabalho de proteger as fronteiras do país e a integridade territorial”, afirmou o chefe de Governo a seus seguidores.

O Exército “deve obedecer ao povo e às autoridades eleitas”, acrescentou.

A Rússia afirmou que está “preocupada” com a situação e fez um pedido de “calma” na ex-república soviética.

A Turquia, grande inimiga da Armênia, condenou “com firmeza” a tentativa de “putsch”.

Pashinyan afirmou que uma declaração do Estado-Maior do Exército pedindo sua renúncia era uma “tentativa de golpe de Estado militar”. Em uma mensagem no Facebook, ele pediu a seus partidários que se reunissem na Praça da República em Yerevan.

Em uma mensagem ao vivo nesta rede social, Pashinyan anunciou a destituição do general Onik Gasparian do comando do Estado-Maior.

Pouco depois, ele liderou a manifestação e declarou que, apesar da situação tensa, “todos concordam que não devem acontecer confrontos”.

“A situação pode ser administrada”, disse o primeiro-ministro. Pashinyan destacou que trabalha em medidas urgentes para desativar a crise. Quase 20.000 pessoas compareceram à praça.

A oposição, que pede a renúncia de Pashinyan desde a derrota militar da Armênia para o Azerbaijão no final de 2020 no conflito de Nagorno Karabakh, reiterou a exigência e também saiu às ruas.

“Pedimos a Nikol Pashinyan que não leve o país a uma guerra civil e a um derramamento de sangue. Pashinyan tem a última oportunidade de sair sem que aconteçam problemas”, afirmou o partido Armênia Próspera, principal força da oposição.

Entre 10.000 e 13.000 manifestantes opositores se reuniram em outra praça da capital Yerevan para pedir a renúncia do primeiro-ministro.

Na quarta-feira, Pashinyan demitiu um auxiliar de Gasparian, Tigran Khachatrian, o que levou o Estado-Maior a pedir sua renúncia por considerar que o primeiro-ministro “não está mais em condições de tomar as decisões necessárias”. Ambos o acusaram de cometer “ataques para desacreditar as Forças Armadas”.

O primeiro-ministro demitiu Khachatrian porque ele ironizou na imprensa as declarações do chefe de Governo, que questionou a confiabilidade do sistema de armamento russo, os lança-mísseis Iskander, durante o conflito em Nagorno Karabakh.

O Estado-Maior considerou que a decisão foi baseada apenas nos “sentimentos e ambições pessoais” de Pashinyan.

– Derrota em Nagorno Karabakh –

Pashinyan está sob pressão da oposição que exige sua renúncia desde a derrota militar da Armênia para o Azerbaijão em 2020 no conflito de Nagorno Karabakh.

Diante do risco de colapso, o primeiro-ministro aceitou, com o apoio do Exército e do Estado-Maior, as condições de um cessar-fogo negociado pelo presidente russo, Vladimir Putin, que implicou importantes perdas territoriais para a Armênia.

Apesar da derrota, Yerevan ainda controla de fato, graças à presença de separatistas armênios, a maior parte da região de Nagorno Karabakh.

Porém, a Armênia perdeu a cidade simbólica de Shusha, assim como um conjunto de regiões azerbaijanas ao redor desta região e que o país controlava desde os anos 1990.

A derrota foi encarada como uma humilhação nacional. Desde então, a oposição exige a renúncia do primeiro-ministro que, quase até o fim do conflito – que começou em setembro e terminou em novembro de 2020 -, repetia que as forças de Yerevan estavam em vantagem sobre Baku.

Nikol Pashinyan, ex-jornalista e histórico opositor, 45 anos, chegou ao poder em 2018, após uma revolução que prometia tirar o país do Cáucaso da pobreza e eliminar a elite marcada pela corrupção.

Desde sua independência após o fim da União Soviética em 1991, a Armênia enfrentou várias crises políticas e revoltas, algumas delas extremamente violentas.