Na véspera do G7, Joe Biden e Boris Johnson se encontraram pela primeira vez nesta quinta-feira (10), determinados a assinar uma nova Carta do Atlântico, embora em um contexto complicado por causa do Brexit e suas consequências à Irlanda do Norte.

Esta primeira viagem internacional do presidente americano tem como objetivo marcar a “volta” dos Estados Unidos depois do mandato de Donald Trump, segundo ressaltou Biden ao chegar ao Reino Unido na quarta-feira.

É o início de uma turnê europeia que o levará à cúpula das sete grandes economias mundiais e uma reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, em Genebra.

Para mostrar a importância do relacionamento com seu aliado britânico, Biden iniciou sua visita se reunindo com o Johnson em Carbis Bay, cidade costeira do sudoeste da Inglaterra onde o G7 será realizado de sexta a domingo.

“Estamos todos muito felizes em vê-lo”, disse o primeiro-ministro britânico ao presidente americano após uma caminhada com suas respectivas esposas ao longo da costa da Cornualha.

Os dois dirigentes irão posteriormente assinar uma nova “Carta Atlântica”, concebida segundo o modelo acordado pelos seus antecessores Roosevelt e Churchill há 80 anos, mas levando em consideração novas ameaças como os ciberataques e a crise climática.

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O documento pretende reafirmar que “embora o mundo tenha mudado desde 1941, os valores permanecem os mesmos” quando se trata de defender a democracia, a segurança coletiva e o comércio internacional, segundo Downing Street.

– Não “dar lições” –

No entanto, as tensões em torno da Irlanda do Norte em decorrência do Brexit ameaçam um melhor resultado da reunião.

Biden, muito orgulhoso da sua ascendência irlandesa, não gosta das tentativas de Londres de violar os compromissos comerciais adquiridos com a União Europeia no chamado “protocolo da Irlanda do Norte”, acordado entre ambas as partes no âmbito do Acordo de Retirada.

O acordo permite não ter que reimpor uma fronteira terrestre entre a Irlanda do Norte e a vizinha República da Irlanda, membro da UE, mas torna difícil o envio de mercadorias do restante do Reino Unido para essa região britânica.

O chamado Acordo da Sexta-feira Santa de 1998, alcançado com a participação do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, colocou fim à violência entre republicanos (principalmente católicos) e unionistas (principalmente protestantes) que ao longo de 30 anos de conflito deixou cerca de 3.500 mortos na região.

Durante o G7, Biden dirá a Johnson que “o progresso (registrado desde o acordo) deve ser mantido”, de acordo com um alto funcionário americano.

Mas “a ideia não é entrar em confronto ou parecer um adversário, ele não veio para dar lições”, ressaltou.

De forma privada, no entanto, o governo Biden é mais severo: de acordo com o jornal The Times, o mais alto diplomata americano no Reino Unido na época, Yael Lempert, acusou Londres de “alimentar” tensões na Irlanda do Norte com sua atitude.

Por sua vez, a União Europeia, acusada por Londres de “purismo” jurídico e falta de pragmatismo, alertou numa reunião na quarta-feira em Londres que reagirá com firmeza se os compromissos assumidos não forem respeitados.

“O protocolo” da Irlanda do Norte “deve ser aplicado na sua totalidade”, insistiu quinta-feira a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, garantindo que vai abordar a questão ao primeiro-ministro britânico no G7.


Na cúpula dos países ricos, a primeira a acontecer presencialmente em dois anos e cujo assunto principal deve ser a pandemia, o presidente dos Estados Unidos – criticado pela lentidão no compartilhamento de vacinas com o resto do mundo – vai colocar na mesa promessas que os Estados Unidos comprarão 500 milhões de doses da vacina covid-19 da Pfizer/BioNTech para distribuir a outros países, sendo 200 milhões ainda este ano.

A outra prioridade do G7 será o combate às mudanças climáticas.


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