VENEZA, 10 AGO (ANSA) – Um remo que fende a cada dia as águas de Veneza, movido pela força de um braço que conduz a gôndola de uma margem a outra do Canal Grande. Depois, o retorno para casa, em um bairro na porção continental da cidade, onde a esperam seu marido e três filhos.
Esse é o cotidiano de Giorgia Boscolo, 36 anos, que há uma década se tornou a primeira gondoleira de Veneza. Em 13 de agosto de 2010, Boscolo rompia nove séculos de domínio masculino nas gôndolas que atravessam o Canal Grande para transporte de passageiros e também naquelas de turismo.
A cada manhã, a gondoleira chega na estação de San Tomà e inicia sua jornada de trabalho como substituta, mas seu sonho é se tornar proprietária de uma licença de titular. “Quem sabe o prefeito não queira me recompensar um dia concedendo-me esse presente, já que sou a primeira mulher na história da cidade a conduzir uma gôndola”, diz Boscolo, sorridente.
Enquanto isso, ela tenta conciliar o trabalho cansativo com a vida privada e uma família que se alargou há três anos, quando Boscolo deu à luz seu terceiro filho, durante um período de inatividade devido a um infortúnio.
“Esses anos voaram. No início, encontrei as inevitáveis dificuldades porque, como mulher, você tem de demonstrar que é melhor que um homem, mas depois todos os colegas de San Tomà se tornaram minha grande casa”, afirma.
Pandemia – Nos meses de lockdown na Itália, as coisas se complicaram para Boscolo, já que Veneza, que vive do turismo, ficou vazia. “Infelizmente, já sentíamos a crise desde novembro, quando houve as inundações na cidade, e desde então não nos recuperamos”, explica.
Apesar disso, a gondoleira nem pensa em trocar de carreira e diz já ter feito até amigos no serviço de travessia no Canal Grande.
“Tenho uma relação cotidiana com muitos clientes. Faço confidências com eles, nos contamos problemas e a cotidianidade de nosso dia a dia”, conta.
Para se tornar gondoleiro em Veneza, é preciso fazer aulas teóricas e práticas, abordando temas como história da arte, direito naval e comportamento com turistas, e superar uma série de exames, inclusive testes toxicológicos. (ANSA).