Composta por garrafas PET, galhos de árvores e até móveis irregularmente descartados, uma correnteza de lixo tomou o leito do Rio Tietê durante as chuvas que atingiram a capital paulista nesta quinta-feira, 4, após 28 dias de estiagem. Segundo especialista, a cena, que se repete a cada temporal, resulta de deficiências de saneamento e põe em risco a saúde pública. A chuva continuava na manhã desta sexta-feira, 5.

Quem costuma trafegar pela Marginal ou trabalha na região já deixou de se surpreender com a crosta de poluição que se forma no rio sempre que chove. Outros até se habituaram ao fedor de ácido sulfídrico que exala das águas – o popular “cheiro de ovo podre”. “Tem de tudo no rio: é garrafa de plástico, tambor, balde… até um guarda-roupa inteirinho eu já vi boiando”, disse o frentista Anselmo Caires, de 32 anos, funcionário de um posto de gasolina às margens do Tietê. “Começa a garoar e já vai descendo lixo. Infelizmente, nem todas as pessoas se preocupam com o rio e o resultado é este aí.”

Incontáveis garrafas PET se espalharam pelo Tietê à tarde. Também havia bolas de futebol, embalagens, pedaços de isopor, um objeto que parecia um para-choque de carro e até um sofá aparentemente em bom estado. “Sinceramente, eu me sinto triste, até porque todos nós somos responsáveis”, comentou o motoboy Anderson de Paula, de 38 anos.

Coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro diz que o cenário é fruto de falta de saneamento nas cidades distribuídas ao longo dos 1.150 quilômetros do rio. “O canal do Tietê em São Paulo, por exemplo, está recebendo lixo de Mogi, de Suzano, de Guarulhos”, disse. Segundo explica, como o lixo acaba acumulando nas ruas, a tendência é de que chuvas como a de ontem, que acontecem após vários dias de estiagem, levem volume ainda maior de resíduos para o leito.

Estudo da SOS Mata Atlântica, divulgado em 2018, aponta que 11% do Rio Tietê é considerado morto. Ou seja, não há condição de vida para peixes e a água não pode ser usada para lazer, irrigação ou consumo. “Um rio contaminado também passa a ser vetor de contaminação para doenças como hepatite e cólera, por exemplo”, disse.

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Em nota, a Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente diz que, desde 1992, a mancha de poluição no Tietê reduziu 77% – antes eram 530 quilômetros “mortos”. “Apenas a Sabesp investiu mais de US$ 3 bilhões no projeto, que resultou na ampliação da coleta de esgoto de 70% para 87% e do tratamento de 24% para 70%.”

Afirma ainda que a limpeza depende da colaboração de prefeituras e da população. “Caso contrário, os resíduos são levados pela chuva às galerias pluviais e córregos e, posteriormente, aos rios.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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