Não, o ministro Barroso não deveria ter falado o que falou – “derrotamos o bolsonarismo” -, mas sim, ele estava correto. A prisão de Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a partir de uma denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF), em novembro do ano passado, é mais uma prova dos métodos ilegais, utilizados pelo governo Bolsonaro, para interferir no resultado das eleições presidenciais de outubro de 2022.

O próprio ex-presidente, com sucessivas mentiras a respeito de urnas eletrônicas, apuração de votos, inserções de propaganda eleitoral etc., todas maciçamente compartilhadas em redes sociais e até mesmo por canais oficiais de comunicação, como a tal EBC, outrora TV Lula, e após, Bolso TV, fez sua parte, além, claro, de todas as demais pregações de cunho golpista desde que assumiu a Presidência da República, em janeiro de 2019.

Além destes, Bolsonaro e Silvinei, podemos destacar outros expoentes – agentes públicos ou não – do bolsonarismo golpista: Roberto Jefferson (preso), Anderson Torres (em liberdade provisória), Carla Zambelli (em maus lençóis), Daniel Silveira (preso), Allan dos Santos (foragido), Olavo de Carvalho (morto), Coronel Cid (preso), dentre tantos outros que sedimentaram o caminho para os atos criminosos de 8 de janeiro passado.

Essa gente antidemocrática, seguida por milhões de brasileiros por todo o País, e por milhares que efetivamente intentaram – uns mais, outros menos – um golpe de Estado, formaram (e ainda formam, infelizmente) uma corrente política com vias a, primeiro, impedir, e após, depor um governo legitimamente eleito. Têm, portanto, de responder por seus crimes, de acordo com as leis e regras do Estado Democrático de Direito.

Silvinei, Cid e Torres eram agentes públicos, em cargos de altíssima relevância que, por todos os fatos já conhecidos, conspiraram contra a democracia brasileira, interferindo, cada um a seu tempo e modo, no regular processo eleitoral. Cid, por exemplo, assim como Torres, participou de discussões (há farta documentação comprobatória a respeito) sobre golpe de Estado. E Silvinei, como chefe da PRF, interferiu diretamente nas eleições.

O trio era de extrema confiança e proximidade de Jair Bolsonaro e a ele prestavam contas e estavam a serviço, confundindo funções de Estado com interesses de governo. Pior. Abdicaram de funções constitucionais em detrimento às aspirações autocráticas do ex-presidente. Havia, portanto, além de método, organização formal no seio do governo, incluindo muita gente das Forças Armadas, além de policiais militares por todo o País.

Silvinei e parte da PRF tentaram impedir os eleitores de chegarem às urnas. Utilizaram, segundo a Polícia Federal, “recursos humanos e materiais (agentes e viaturas) para interferir no resultado das eleições”, realizando operações de fiscalização excessivas e abusivas, em locais potencialmente lulistas. À época, Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ordenou o fim dessas operações e não foi atendido.

Tudo junto e misturado (com parte significativa, repito, da população), tínhamos, pois, e ainda temos, o tal bolsonarismo a que se referiu Barroso. Porém, contrariando o ministro, não creio que esteja derrotado (o movimento), ainda que tenha perdido as eleições. Aqui e em vários países do mundo, infelizmente, a autocracia vem sendo aceita – indevidamente, claro – como parte do processo democrático, o que, por natureza, é impossível.