Por Gabriel Zorzetto
Poucas mulheres da geração áurea do rock n’ roll ainda caminham sobre a Terra. Chrissie Hynde, Patti Smith, Stevie Nicks, Debbie Harry, Ann Wilson, Joan Jett… E a lista começa a se esgotar.
Cerca de 13 mil pessoas tiveram a chance de testemunhar o talento de uma dessas heroínas do gênero no palco do C6 Fest, no Parque Ibirapuera, neste sábado, 24, durante apresentação do Pretenders que encerrou uma turnê latino-americana com paradas em Porto Alegre, Curitiba e Brasília, Santiago, Buenos Aires, Montevidéu e Cidade do México.
A banda, formada na Inglaterra em 1978 na esteira do movimento punk, enfileirou uma série de hits ao mesclar letras emotivas a guitarras vigorosas e uma batida pulsante, consolidando a voz aveludada de Chrissie Hynde como uma das mais reconhecíveis da música pop durante as últimas quatro décadas.
E mesmo sendo uma figura marrenta e alheia à mídia, a roqueira ganhou enorme visibilidade ao participar de um episódio da série fenômeno Friends, que resultou na criação da música cômica da personagem Phoebe, Smelly Cat, composta em parceria com a atriz Lisa Kudrow.
Uma mulher implacável no Parque
A capital paulista não é nenhum território desconhecido da cantora, que morou na região central da cidade por alguns meses, em 2004, quando fez uma turnê com Moreno Veloso, filho de Caetano. Já na liderança do conjunto que a consagrou, ela nos visitou em outras três ocasiões: no festival Hollywood Rock em 1988; em excursão solo em 2003; e como atração de abertura do memorável giro de despedida de Phil Collins em 2018.
A frontwoman de 73 anos é hoje a única integrante original do Pretenders. O guitarrista James Honeyman-Scott e o baixista Pete Farndon morreram de overdose nos anos 80 após terem gravado os dois primeiros álbuns. O baterista Martin Chambers, por sua vez, se afastou recentemente, sem dar motivos, após décadas de serviços prestados.
No palco, às 19h, Hynde apareceu acompanhada por três rapazes que compõem um quarteto em formato à la Beatles (duas guitarras, baixo e bateria). Os músicos de apoio são esforçados, mas não são os Pretenders. Um nome apropriado para a formação seria Chrissie Hynde & Her Band.
Ostentando cabelos tingidos, a veterana vestia camiseta preta, calças jeans e botas de couro. “Obrigado, São Paulo”, falou ela, que distribuía sorrisos, mas pouco interagia com o público.
O show, básico e sem firulas, teve como principal defeito o curto tempo de duração – apenas 1h15, por causa da programação apertada do festival, que por lei precisava encerrar o barulho no Ibirapuera às 22h.
A abertura do repertório, entremeado por novidades e clássicos, foi com a contundente Hate For Sale, faixa-título do álbum homônimo de 2020. “Ódio à venda / Ele não vai ser enforcado nem preso / Ele tem uma língua e um rabo enrolados / Mas, principalmente, ele tem ódio à venda” – canta Hynde, sobre quem?