A pressão segue aumentando sobre o Comitê Olímpico Internacional (COI) para que adie os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, previstos entre julho e agosto, devido à pandemia do coronavírus, após os pedidos de influentes federações, neste sábado (21).

Há vários dias, a entidade olímpica, com sede em Lausane, na Suíça, tenta justificar sua posição de aguardar, enquanto que o balanço de falecimentos por coronavírus segue crescendo no mundo, com medidas de confinamento da população sendo tomadas em muitos países, afetando cerca de 900 milhões de pessoas.

– “Não vivemos em uma bolha” –

“Não vivemos em uma bolha ou em outro planeta. Claro que examinamos outros cenários, mas não seria responsável hoje e seria prematuro partir de especulações e tomar uma decisão”, explicou o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, em entrevista na quinta-feira (19) ao New York Times, ao ser questionado sobre a possibilidade de adiar os Jogos de Tóquio (24 de julho-9 de agosto).

Nos Estados Unidos, algumas federações não demoraram em se declararem contrárias ao apoio oficial ao COI dado pelo Comitê Olímpico americano (USOPC).

A primeira entidade a tornar pública sua insatisfação foi a Federação Americana de Natação, a USA Swimming, dona de 33 medalhas olímpicas -16 de ouro- nos últimos Jogos do Rio-2016.

A USA Swimming exigiu o adiamento, alegando que seus nadadores não conseguem treinar normalmente, sob o risco de contraírem o vírus ou propagá-lo a outros.

Este argumento vem sendo utilizado por grande parte dos atletas de alto nível no mundo, como a campeã olímpica de salto com vara, a grega Katerina Stefanidi, que acusa o COI de “colocar em risco” sua saúde.

Na última semana, muitos atletas publicaram, com dose de humor, imagens de seus treinamentos, confinados em casa, com equipamentos rudimentares.

– Estresse e preocupação-

“Nossos nadadores sempre estão preparados para qualquer prova, não importa quando ou onde. Mas seguir em frente em meio a uma crise sanitária mundial não é a resposta. O certo é dar prioridade à saúde e à segurança de cada um”, escreveu o diretor-geral da USA Swimming, Tim Hinchey, em comunicado da USOPC.

Neste sábado, o presidente da Federação Americana de Atletismo, Max Siegel, pediu ao USOPC que defenda diante do COI o adiamento dos Jogos.

“O correto e responsável a fazer é priorizar a saúde e a segurança de todos e reconhecer de forma apropriada os efeitos que tem esta difícil situação, e que segue tendo, sobre nossos atletas e seus preparativos para os Jogos Olímpicos”, declarou Siegel, reconhecendo, porém, que “não há situação perfeita”.

“Conversamos e escutamos as federações e nossos atletas durante este período inédito para todos. Temos uma nova reunião no início da semana sobre todos esses atletas que não podem treinar em vários países que tomaram medidas para frear o coronavírus”, informou o presidente da Federação Internacional de Atletismo (Iaaf), Sebastian Coe, em comunicado enviado à AFP.

– “Uma decisão rápida” –

“Não acredito que devemos ter os Jogos Olímpicos a qualquer custo, principalmente ao custo da saúde dos atletas. Uma decisão sobre os Jogos Olímpicos deverá rapidamente ser tomada nos próximos dias ou semanas”, completou Coe.

Os pedidos para que os Jogos de Tóquio sejam adiados também ganharam força na França (FFN), onde a Federação de Natação questionou a “equidade esportiva”.

“Na França, os atletas são prejudicados por um confinamento generalizado que não permite que treinem”, lamentou a FFN.

Na Noruega, o recado é o mesmo: “É importante que o COI tome uma decisão o quanto antes, para que cada um tenha uma oportunidade igualitária de se preparar”, disse à AFP a porta-voz do Comitê Olímpico norueguês, Sofie Olsen.

O COI também está sob pressão devido ao adiamento de outras competições de prestígio, como a Eurocopa-2020 e a Copa América-2020 de futebol, que serão disputadas em 2021, ou Roland Garros, reagendado de maio para setembro.

Com um orçamento de mais de 11 bilhões de euros investidos em infraestruturas e organização, os Jogos de Tóquio esperavam a presença de mais de 11.000 atletas do mundo todo e milhões de espectadores, o que faria de um adiamento um desafio logístico sem precedentes.

Mas, para um número cada vez maior de dirigentes envolvidos, é preciso que uma decisão seja tomada rapidamente. “Acreditamos que, na atual situação, vamos em direção a um adiamento”, afirmou o presidente da Federação Francesa de Atletismo, André Giraud.

“É preciso agora tomar a decisão para que os atletas saiam da situação de estresse e preocupação na qual estão”, continuou.

Uma posição resumida pela mensagem no Twitter do americano Ashton Eaton, bicampeão olímpico do decatlo: “Tóquio-2021. Não há outra solução”.

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