Forças de segurança do Mali detiveram neste sábado (11) vários líderes da oposição, um dia depois de distúrbios que beiraram a insurreição na capital, Bamaco, enquanto o presidente Ibrahim Boubacar Keita anunciou a “dissolução de fato” do Tribunal Constitucional para mitigar as tensões.

Os protestos se concentram no Tribunal Constitucional e no próprio presidente.

Em um rápido discurso transmitido pela TV, o segundo em uma semana, Keita disse que anularia os decretos de nomeação dos juízes da corte, o que equivale a uma “dissolução de fato”.

Bamaco viveu na sexta-feira seu pior dia de distúrbios civis em anos, com pelo menos quatro mortos, segundo o primeiro-ministro Boubuou Cissé, e ataques a símbolos do poder, como o Parlamento e a TV nacional.

Pela terceira vez em pouco mais de um mês, o Movimento do 5 de Junho, uma coalizão de líderes religiosos e personalidades políticas e da sociedade civil, levou às ruas milhares de moradores para pedir a demissão do presidente, considerado responsável por todas as mazelas do país.

Em visita a um hospital neste sábado, o premier mencionou quatro mortos e 50 feridos em confrontos com as forças de segurança na sexta.

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“O presidente [Keita] e eu estamos abertos ao diálogo”, disse Cissé.

Mas quase enquanto ele falava, as forças de segurança detiveram Choguel Maiga e Mountaga Tall, líderes do Movimento do 5 de junho, disse um porta-voz do grupo.

Mais tarde, as forças de segurança foram à casa de outro líder da oposição, Sy Kadiatou Sow, mas não o encontraram, declarou um familiar que pediu para não ter a identidade revelada.

Outros dois oposicionistas, Issa Kaou Djim e Clement Dembele, foram detidos na última hora da sexta-feira, afirmou a aliança, e duas personalidades consideradas pilares intelectuais do movimento, também foram detidas, acrescentou.

No total, seis integrantes da oposição foram detidas em dois dias.

Enquanto isso, Bamaco, preservada da violência jihadista e intercomunitária que castiga o norte e o centro do país, continua sendo denário de enfrentamentos, incidentes e concentrações que mantêm um clima de grande nervosismo.

Os incidentes se intensificaram ao cair da noite: grupos de homens erguiam barrigadas nas rodovias, queimavam pneus e atiravam pedras nas forças de segurança.

O Movimento de 5 de Junho se declarou em “desobediência civil”, mas pacífica, segundo anunciou.

A coalizão canaliza multidões de descontentes em um dos países mais pobres do mundo, como a degradação da segurança, o marasmo econômico, a má situação dos serviços públicos e o descrédito generalizado das instituições, suspeitas de corrupção.

As eleições parlamentares de março e abril e a invalidação de cerca de 30 resultados pelo Tribunal Constitucional, acusado de conluio com o governo, parecem ter cristalizado a revolta.


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