Presidente sérvio nega envolvimento em ‘safári humano’ na Bósnia

BELGRADO, 21 NOV (ANSA) – O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, desmentiu as acusações de que teria envolvimento nos “safáris humanos” organizados durante o brutal cerco a Sarajevo, capital da atual Bósnia e Herzegovina, na década de 1990.   

O caso veio à tona na semana passada, quando o Ministério Público de Milão abriu uma investigação para apurar a suposta participação de cidadãos italianos em viagens que levavam turistas para disparar contra civis durante o conflito nos Bálcãs.   

“Nunca matei nem feri ninguém, tampouco fiz qualquer coisa de parecido”, disse Vucic na última quinta-feira (20),m enquanto o Ministério das Relações Exteriores sérvio definiu as acusações feitas por um jornalista croata como “infundadas” e “sensacionalistas”, com o objetivo de “prejudicar a imagem” do país.   

O repórter Domagoj Margetic, por sua vez, alega que Vucic, então um jovem voluntário nas forças sérvio-bósnias, teria estado presente em um dos postos militares de onde cidadãos estrangeiros e milícias ultranacionalistas disparavam contra civis bosníacos em Sarajevo.   

“Eu jamais fui atirador e jamais tive nas mãos os fuzis dos quais se fala. Tenham vergonha”, acrescentou Vucic.   

O inquérito em Milão nasceu de uma denúncia apresentada pelo escritor Ezio Gavazzeni, que reuniu material sobre o caso a partir de informações passadas a ele por um ex-agente de inteligência bosníaco.   

O escritor cita uma troca de e-mails em 2024, na qual o ex-agente secreto relatou ter ficado sabendo sobre os “safáris humanos” no fim de 1993, a partir do interrogatório de um voluntário sérvio capturado pelas forças da Bósnia.   

Esse prisioneiro teria testemunhado que cinco estrangeiros, incluindo pelo menos três italianos, teriam viajado com ele de Belgrado até Sarajevo, que, na época, era alvo de um dos cercos mais brutais da história moderna por parte das forças sérvias, que tentavam evitar o desmantelamento da antiga Iugoslávia.   

O grupo de “atiradores turísticos” teria partido de Trieste, cidade italiana situada na fronteira com a Eslovênia, e incluía homens com situação financeira privilegiada, incluindo o dono de uma clínica de cirurgia plástica em Milão.   

Segundo a denúncia, os “caçadores” pagavam uma taxa por cada civil que matavam: “As crianças custavam mais, depois os homens (mais ainda se estivessem fardados ou armados), as mulheres e, por fim, os idosos, que podiam ser mortos de graça”.   

O cerco sérvio contra Sarajevo durou quase quatro anos e deixou mais de 10 mil mortos. Atiradores de elite costumavam se esconder nas montanhas que rodeiam a cidade e disparar aleatoriamente contra pessoas nas ruas, sobretudo civis, que compõem mais de 80% das vítimas. (ANSA).