O médico do presidente do Níger deposto, Mohamed Bazoum, pôde visitá-lo neste sábado (12) na residência onde é mantido retido desde o golpe de 26 de julho, enquanto uma missão de religiosos da Nigéria fez uma mediação com os militares que tomaram o poder no país vizinho.

Os religiosos foram recebidos pelo primeiro-ministro civil designado pelos militares, Ali Mahaman Lamine Zeine, reportou a Agência de Notícias Nigerina (APN).

Seu objetivo é “apaziguar as tensões criadas pela possibilidade de uma intervenção militar” da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), para restituir Bazoum ao poder, informou à AFP uma fonte próxima à delegação.

Esta missão ocorre dois dias depois de a Cedeao ordenar a mobilização de uma “força de reserva”, com visitas a uma intervenção para restaurar a ordem constitucional no Níger.

Mas o avanço de uma possível intervenção parece ter freado com o adiamento de uma reunião dos líderes militares da Cedeao, prevista para este sábado, em Gana, para discutir seus cenários.

Na Nigéria, principal potência econômica e militar da Cedeao, formada por 15 países, vários parlamentares e dirigentes políticos instaram o presidente Bola Tinubu a reconsiderar a opção de uma ação militar no país vizinho.

Vários países da região também têm demonstrado reservas sobre uma intervenção. Mali e Burkina Faso, também governados por militares, expressaram inclusive sua solidariedade com Niamei.

Na sexta-feira, milhares de apoiadores do regime militar se manifestaram na capital em frente à base francesa no Níger, no âmbito do combate aos grupos jihadistas que atuam no Sahel, uma extensa faixa semiárida que margeia, ao sul, o deserto do Saara.

Os militares nigerinos acusam a França, ex-potência colonial, de ter incentivado a Cedeao a intervir no país.

No passado, a Cedeao já interveio na Libéria, em Serra Leoa e Guiné-Bissau.

– Visita médica a Bazoum –

Bazoum “recebeu hoje a visita de seu médico”, que “também levou a ele o que comer”, assim como a seu filho e esposa, retidos junto com ele, informou um de seus assessores.

O presidente deposto “está bem, considerando a situação”, acrescentou.

Representantes de organizações internacionais e de países aliados do Níger até o golpe têm expressado, nos últimos dias, preocupação com a saúde e as condições da detenção de Bazoum.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou na sexta-feira que “informes confiáveis que indicam que as condições da detenção [de Bazoum] são equiparáveis a um tratamento desumano e degradante”.

Um dos familiares do dirigente deposto havia dito à AFP que o regime militar ameaçou agredir Bazoum em caso de intervenção estrangeira.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse na sexta-feira que estava “consternado” com a negativa dos militares de libertar, como “sinal de boa vontade”, a família de Bazoum.

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