03/11/2024 - 19:41
A presidente pró-europeia em fim de mandato, Maia Sandu, lidera as eleições presidenciais na Moldávia após ultrapassar por uma margem estreita o candidato apoiado pelos socialistas pró-Rússia, Alexandre Stoianoglo, de acordo com os últimos resultados anunciados neste domingo (3), ao final de uma votação marcada pelo receio de interferência russa.
Após a contagem de 95% das cédulas, a candidata de 52 anos obteve 50,9% dos votos, contra 49,1% de seu rival, o ex-procurador de 57 anos apoiado pelos socialistas pró-Rússia, conforme informou a Comissão Eleitoral.
Stoianoglo estava inicialmente à frente, mas a tendência acabou se revertendo a favor de Sandu à medida que os votos eram contabilizados.
Sandu agradeceu a “todos os que acreditaram na democracia”, dirigindo-se aos seus apoiadores, que se reuniram em um ambiente entusiástico na sede de campanha na capital, Chisinau.
Seu adversário pediu pouco antes “calma, quaisquer que sejam os resultados”.
Os analistas previram uma disputa acirrada nesse pequeno país de 2,6 milhões de habitantes, semelhante à que ocorreu na semana passada nas eleições legislativas da Geórgia, outra ex-república soviética, onde o partido governista venceu por uma margem estreita.
Assim como na Geórgia, as eleições foram realizadas em meio a fortes temores de interferência russa, que nega qualquer envolvimento.
Durante todo o dia, as autoridades denunciaram “provocações e tentativas de desestabilização”.
A polícia afirmou que estava investigando uma suposta provisão de “transporte organizado” por parte da Rússia para Belarus, Azerbaijão e Turquia, para permitir que eleitores residentes em seu território fossem votar em consulados ou embaixadas moldavas nesses países.
Além disso, segundo a mesma fonte, houve ciberataques e falsos alertas de bomba durante a votação no exterior.
Alta participação
A chefe de Estado em fim de mandato, primeira mulher a ocupar a presidência em 2020 desse país situado entre a Otan e a esfera de influência russa, distanciou-se do presidente russo, Vladimir Putin, após a invasão da vizinha Ucrânia em 2022.
Sandu, economista de formação, liderou com ampla vantagem o primeiro turno das eleições presidenciais, realizado em 20 de outubro, mas seu adversário Stoianoglo contou com o apoio de vários candidatos menores.
Neste domingo, a taxa de participação foi notavelmente mais alta que no primeiro turno, com longas filas em vários locais e um número recorde de eleitores na diáspora.
Há duas semanas, no referendo sobre a inclusão na Constituição moldava do projeto de adesão à União Europeia (UE), o “sim” venceu por apenas 50,35% dos votos.
A situação atribuiu a vitória apertada à compra maciça de votos e, para evitar que isto volte a ocorrer neste domingo, intensificou a campanha nas redes sociais e nos povoados.
As negociações de adesão foram formalmente abertas em junho deste ano.
Stoianoglo, por sua vez, fez campanha com uma linguagem sem arestas e um vocabulário no qual palavras russas se misturam à língua oficial romena.
Em um discurso, o candidato prometeu ser “o presidente de todos” e negou “ter relações com o Kremlin” ou qualquer envolvimento “em fraudes eleitorais”.
Após votar, acompanhado da mulher e da filha, ele disse que busca um país “que não peça esmola, mas que desenvolva relações harmoniosas tanto com o leste quanto com o oeste”.
“Um preço alto”
Esta ex-república soviética, independente desde 1991, está polarizada.
Em Chisinau e na diáspora predominam os apoiadores da causa europeia; enquanto nas zonas rurais, assim como na região separatista da Transnístria e na região autônoma de Gagaúzia, os pró-russos são maioria.
Natalia Grajdeanu, uma cerimonialista de 45 anos, viajou da Irlanda, onde vive. “Somos um país pequeno com um grande coração e queremos que a Europa seja nossa casa”, declarou à AFP na capital.
Outros, como Grigore Gritcan, um aposentado da Transnistria, se mostram reticentes. Ele diz defender “mais liberdade e uma verdadeira paz”, em um contexto em que “as pessoas não têm o que comer nem trabalho”.
A eleição é acompanhada com atenção pela UE e pelos Estados Unidos, preocupados com a possibilidade de interferência russa.
A Moldávia está “pagando um preço alto” por sua decisão de cortar laços com a Rússia, ressalta o especialista do WatchDog.
“A pressão é enorme e o dinheiro gasto nestas atividades desestabilizadoras é colossal”, acrescentou.
Segundo ele, o objetivo destas campanhas é recolocar a Moldávia “na órbita da Rússia”.