Há mais de um ano na Presidência do Paraguai, Mario Abdo Benítez pretende levar seu país a uma posição de maior destaque no cenário internacional, como demostrou ao autorizar aterrissagem para reabastecimento em Assunção do avião que transportava para o Méxcio o ex-presidente da Bolívia Evo Morales, e se apresenta como “articulador” para resolver as crises da região.
Em entrevista exclusiva à AFP, Abdo Benítez, do Partido Colorado (direita), referiu-se à crise política e social que assola vários países da América do Sul, além de analisar sua relação com os presidentes da região, entre eles, Jair Bolsonaro.
“Creio que a renúncia do presidente Morales contribuiu para que hoje haja um ambiente mais adequado para iniciar um diálogo na Bolívia, e que a Bolívia siga o caminho democrático”, disse o chefe de Estado deste país de sete milhões de habitantes, que faz fronteira com Brasil, Argentina e Bolívia.
Abdo, eleito em 2018 para um mandato de cinco anos, disse que apesar das mudanças da configuração política da região, os processos de integração como o Mercosul tem que continuar.
Mas foi mais crítico ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela.
“Ali (na Venezuela) não há democracia, não há respeito aos direitos humanos. Não há respeito à liberdade de imprensa. Uma nação rica está sendo destruída, mal administrada por um homem nefasto. Esse é o nosso questionamento”, enfatizou o governante.
Pergunta: Como vê a situação atual com este novo mapa político e geopolítico da região?
Resposta: “O mapa político não me preocupa. Sim, eu me preocupo com aqueles líderes que querem impor uma visão ideológica que não respeita a autonomia dos povos (…) Estamos em um momento diferente onde, para mim, o debate de direita e esquerda é absolutamente obsoleto”.
P: Antes da Bolívia, Maduro disse que (o que aconteceu no Equador e no Chile) era uma brisa chavista que sopra na América Latina …
R: “Essas são as barbaridades das lideranças que estão totalmente fora do que precisamos construir para realmente ter uma integração respeitando a autonomia dos povos”.
P: Como poderia ser solucionada a crise no Chile?
R: A crise do Chile pode ser resolvida com mais democracia, com diálogo, com acordos.
P: Pode o Paraguai ser contagiado por este momento de convulsão na região?
R: “Imagine o que o Paraguai tem. Neste último trimestre, ele cresceu 2,7%, apesar da crise regional que temos. Veja como as democracias estão na região: queimando igrejas e destruindo a herança do povo. O Paraguai está vivendo um ambiente de relativa harmonia. Vamos cuidar disso. Espero que não tenhamos que viver o que outros países vivem para valorizar o que temos. O Paraguai tem uma inflação de 3,7% ao ano contra 30% da Argentina. Temos estabilidade macroeconômica, crescimento”.
P: Como ficam Paraguai e Uruguai em relação ao confronto ideológico entre Brasil e Argentina?
R: “Podemos ser grandes articuladores. Eu vejo como uma oportunidade, que a liderança democrática, inclusiva e tolerante possa ser uma ferramenta para um processo de integração mais profundo e sincero”.
P: Qual é a sua relação com o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández?
R: “Conversei ao telefone com ele em algumas ocasiões. Obviamente, liguei para ele para parabenizá-lo após o processo eleitoral. Não tenho um relacionamento direto, mas tenho certeza de que teremos uma grande amizade, assim como eu tenho com o atual presidente (Mauricio) Macri”.
P: E sua relação com o presidente Jair Bolsonaro (do Brasil)? Está mais ideologicamente vinculado ao seu pensamento político.
R: Excelente. Com o presidente Bolsonaro, construímos uma grande amizade e também tenho uma profunda convicção de que ele também será parte fundamental desse grande processo de integração da região. Conseguimos concluir o processo de negociação com a Comunidade Europeia. Um enorme mercado se abre para nós. Encerramos o processo de negociação Mercosul-HEFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), o mercado com o maior PIB per capita do mundo. Ou seja, não há mais um caminho que possa interromper os processos de integração.