Por Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) – Ao mesmo tempo em que negou ter sofrido qualquer pressão do presidente Jair Bolsonaro em sua condução à frente do Ministério da Saúde, o ex-ministro Eduardo Pazuello afirmou nesta quinta-feira à CPI da Covid do Senado que as decisões da pasta eram tomadas, em sua maioria, de forma compartilhada com os níveis de governo estadual e municipal.

Em ocasiões diferentes pressionado sobre as posições de Bolsonaro contra as medidas restritivas de circulação de pessoas impostas por governadores, declarações contrárias ao uso de máscaras, recomendando o uso da cloroquina ou questionando a eficiência das vacinas, Pazuello sustentou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que o presidente não o obrigou a tomar decisões na época em que esteve à frente da pasta.

“Eu não tomei decisões sozinho lá no Ministério da Saúde, quando eu estava lá. As decisões eram pactuadas, isso quer dizer, discutidas, de uma forma clara e objetiva e técnica com os executivos do Conass e do Conasems. Então, exclusivamente falando deste flanco que é a saúde, ele é tratado dessa forma”, disse o ex-ministro.

“E posso afiançar também ao senhor e a todos os senadores: sim, eu tive liberdade de tomar, no que tange à minha parte das decisões, a liberdade de tomar as decisões. Agora, as demais frentes para a pandemia, elas são realmente conduzidas por outras pessoas”, avaliou.

Pazuello, que disse não considerar as declarações do presidente e posições explicitadas em redes sociais como orientações para sua atuação na pasta, reconheceu que “todo o contexto” era analisado para a tomada de decisões.

O ex-titular da pasta relatou conversas semanais ou quinzenais com Bolsonaro, ocasiões em que apresentava “quadros” da pandemia.

Também afirmou assim como não se sentia obrigado, também não entendeu que Bolsonaro proibisse suas ações.

Mas pelo menos em uma ocasião o ministro foi publicamente desautorizado pelo presidente da República. Em outubro do ano passado, após reunião com 27 governadores, o então ministro anunciou a assinatura de protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses da CoronaVac, que à época passava por testes no Brasil liderados pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo.

No dia seguinte, no entanto, Bolsonaro desautorizou Pazuello e afirmou, em publicação no Facebook, que a vacina não seria comprada, em resposta a apoiador que criticava a origem chinesa do imunizante. Em outra publicação na rede social, o presidente apontou que o imunizante ainda não contava com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disse que “o povo brasileiro não será cobaia de ninguém”.

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