O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, defendeu nesta sexta-feira (19) que sejam punidos os militares e funcionários envolvidos no desaparecimento de 43 estudantes em 2014, após um relatório oficial que aponta a responsabilidade de agentes do Estado.

“Revelar a verdade e castigar os responsáveis fortalece as instituições”, disse o presidente esquerdista em coletiva de imprensa, depois da divulgação do relatório da comissão governamental que investiga o caso desde 2019 e o considera um “crime de Estado”.

O documento afirma que militares e funcionários públicos, por suas “ações, omissões ou participação”, permitiram o sequestro e a morte de 43 estudantes da escola normal de Ayotzinapa e mais seis pessoas por parte do cartel de narcotráfico Guerreros Unidos.

“Revelar essa situação atroz, desumana, e ao mesmo tempo castigar os responsáveis, ajuda a não repeti-la. Que nunca mais ocorram esses eventos lamentáveis em nosso país”, acrescentou López Obrador na cidade de Tijuana.

Não há informações sobre a patente dos militares nem se seguem ativos.

Os familiares submeteram o documento a uma avaliação do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), criado por um acordo entre o governo anterior, de Enrique Peña Nieto (2012-2018), e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), anunciou Vidulfo Rosales, advogado dos pais.

– Forças Armadas –

O desaparecimento dos jovens aconteceu entre a noite de 26 e a madrugada de 27 de setembro de 2014, quando eles se dirigiam até a cidade de Iguala, estado de Guerrero, para pegar os ônibus nos quais viajariam para a Cidade do México para participar de protestos.

Esse episódio constitui uma das piores violações de direitos humanos do México e gerou uma forte condenação internacional.

O GIEI alega que militares manipularam provas em um lixão onde foram encontrados restos humanos, incluindo os dos únicos três normalistas identificados até o momento.

Na presença dos secretários de Defesa, Luis Cresencio Sandoval, e da Marinha, José Rafael Ojeda, o presidente afirmou que a participação de “maus servidores públicos” nos fatos de Ayotzinapa não supõe “o mau funcionamento de uma instituição”.

Para López Obrador, as revelações fortalecem o Exército. “O que debilita uma instituição é que não se atue com apego à verdade e que haja corrupção, impunidade”, declarou. Em seu governo, iniciado em 2018, as Forças Armadas têm desempenhado um papel de protagonismo.

Os achados do grupo e a comissão governamental jogam por terra grande parte da chamada “verdade histórica” apresentada pelo governo de Peña Nieto, que não atribuiu responsabilidade aos militares.

De acordo com essa versão, os jovens foram detidos e entregues por policiais locais aos traficantes da Guerreros Unidos ao serem confundidos com membros de um cartel inimigo.

Após serem baleados, seus restos foram incinerados e jogados no lixão de Cocula, segundo a mesma tese, que é rechaçada pelos familiares, o governo de López Obrador e o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.