O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, acusou, nesta quarta-feira (31), os Estados Unidos de favorecerem “práticas imorais” depois que um renomado jornalista americano publicou uma reportagem que assegura que narcotraficantes aportaram dinheiro em sua campanha presidencial de 2006.

“Não denuncio o jornalista ou os jornalistas, não denuncio os meios de comunicação. Denuncio o governo dos Estados Unidos por permitir estas práticas imorais e contrárias à ética política que deve prevalecer em todos os governos do mundo”, disse o presidente mexicano em sua coletiva de imprensa matinal habitual.

Tim Golden, duas vezes ganhador do prêmio Pulitzer de jornalismo, publicou nesta terça-feira uma investigação no veículo ProPublica, na qual afirma que o Cartel de Sinaloa entregou 2 milhões de dólares (R$ 4,3 milhões, na cotação média de 2006; R$ 9,9 milhões na cotação atual) na primeira das três campanhas presidenciais de López Obrador, que finalmente conseguiu se eleger em 2018.

Segundo a reportagem, que cita agentes antidrogas dos Estados Unidos, os criminosos buscavam uma facilitação para suas operações em um eventual governo López Obrador.

“A DEA [Agência Antidrogas dos Estados Unidos] tem que dizer se isso é verdade ou não. Qual é a investigação que fizeram. Mas não a DEA: o Departamento de Estado. Esse é realmente o problema, e vem de muito tempo”, assinalou López Obrador, que questiona com frequência a atuação das agências do governo americano, apesar de manter boas relações com seu colega Joe Biden.

“É completamente falso, é uma calúnia […] não existe nenhuma prova” sobre o suposto financiamento ilegal, ressaltou.

De acordo com Golden, “agentes antidrogas dos Estados Unidos descobriram o que consideraram provas sólidas de que importantes traficantes de drogas haviam entregado cerca de 2 milhões [de dólares] a operadores políticos que trabalhavam” na primeira campanha presidencial de López Obrador.

Uma denúncia similar foi publicada na terça-feira pela jornalista mexicana Anabel Hernández no veículo alemão DW. Ambas as reportagens se baseiam em entrevistas realizadas por agentes americanos com testemunhas protegidas.

López Obrador afirma que essas denúncias são parte dos ataques de seus adversários com vistas às eleições presidenciais de 2 de junho. A candidata da situação, Claudia Sheinbaum, lidera as pesquisas.

O presidente mexicano, cuja popularidade gira em torno de 69%, acusa a DEA de ter fracassado em sua estratégia antidrogas, e inclusive dissolveu uma unidade antinarcóticos treinada pela agência americana, alegando que havia criminosos infiltrados.

Também impulsionou uma reforma que limitou a atuação de agentes estrangeiros no México, em meio às críticas à sua política de segurança que não conseguiu conter a violência do narcotráfico, à qual se atribuem cerca de 420.000 assassinatos desde que o governo de Felipe Calderón (2006-2012) envolveu, em 2006, os militares na guerra contra os cartéis.

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