O presidente francês, Emmanuel Macron, designou nesta sexta-feira como primeiro-ministro Jean Castex, encarregado do delicado período de desconfinamento após a quarentena provocada pela pandemia do novo coronavírus, numa tentativa de traçar “um novo rumo”, visando às eleições presidenciais de 2022.

O novo governo terá que “colocar em prática a nova fase do quinquênio, projeto de reconstrução social, econômica, ambiental e local” que Macron deseja iniciar após a crise do novo coronavírus, informou o Palácio do Eliseu.

Castex, um conservador moderado de 55 anos pouco conhecido dos franceses, sucede o também conservador Edouard Philippe, que, após três anos à frente do Executivo, apresentou na manhã desta sexta-feira a demissão em bloco do governo, incluindo a sua. O novo premier afirmou que deseja “unir o país frente à crise econômica e social que já está aqui com o coronavírus. As prioridades terão que evoluir e os métodos, que se adaptar.”

A mudança no gabinete era considerada iminente desde a derrota sofrida pelo partido de Macron, A República em Marcha (LREM), nas eleições municipais de domingo, marcadas por um índice de abstenção histórico e pelo avanço dos Verdes em várias cidades importantes do país.

O governo enfrenta um período complicado, com a inédita mobilização do movimento dos “coletes amarelos”, a greve contra a reforma da Previdência e o descontentamento dos profissionais da saúde. A isto se somam as consequências da pandemia, que, além de já ter deixado cerca de 30 mil mortos no país, teve um impacto devastador na economia francesa.

O procurador-geral da França, François Molins, anunciou hoje uma investigação judicial sobre a gestão da crise do novo coronavírus contra Edouard Philippe, Olivier Véran e Agnès Buzyn, que fizeram parte do governo Macron.

– Crise econômica ‘muito difícil’ pela frente –

O Banco da França estimou em junho que o desemprego chegará a 10% no fim de 2020 e a 11,5% em meados do ano que vem, um nível “acima de precedentes históricos” de recessões econômicas. Em entrevista à imprensa regional publicada na noite de ontem, Macron alertou que o país deve se preparar para uma crise econômica “muito difícil”.

Colaborador do ex-presidente Nicolas Sarkozy (2007-2012), Jean Castex, 55 anos, prefeito pelo LR (Os Republicanos) de Prades, no sudoeste da França, assumiu em abril a coordenação da estratégia de fim do confinamento. “Ele é um funcionário público completo e versátil, que se dedicará a reformar o Estado e conduzir um diálogo pacífico com os territórios”, indicou o Palácio do Eliseu.

Este homem de perfil discreto, pouco exposto até agora, será responsável por fazer cumprir as orientações decididas por Emmanuel Macron até a eleição presidencial de 2022, enquanto o chefe de Estado pretende “se reinventar”.

Com Castex, Macron opta por “uma forma de continuidade”, analisa Bruno Cautrès, pesquisador eleitoral do instituto de estudos políticos parisiense Sciences Po. “É um representante local e vem da direita moderada, como Philippe. Será necessário aguardar a composição completa do novo governo (o que deverá ocorrer até a próxima quarta-feira) para compreender a mensagem que Macron quis transmitir”, assinalou.

Edouard Philippe, com quem Macron disse ontem que mantém uma “relação de confiança única”, irá retornar à cidade portuária de Le Havre, seu reduto eleitoral, onde foi eleito prefeito no último domingo. Mas o ex-premier manterá uma relação estreita com o chefe de Estado, uma vez que, segundo fontes de seu círculo, ele concordou em “ajudar o presidente a consolidar a maioria”, visando às eleições de 2022.

Para a esquerda, a nomeação de Castex mostra que Macron seguirá levando adiante uma “política de direita”. Os ambientalistas lamentaram a chegada “de um novo homem de direita, que nunca ouvimos falar sobre ecologia”.

Desde o início da presidência de Emmanuel Macron, 17 ministros deixaram o governo.