Eu não conheço a fundo os princípios que regem o cristianismo em todas as suas correntes religiosas. O máximo que sei, diz respeito a valores humanos universais, como caridade, compaixão, solidariedade, amor ao próximo etc., sentimentos que são compartilhados por todas as religiões do mundo.

Bolsonaro se diz cristão, mas fere de morte todos os valores acima. Há quem diga ainda mais: que ao se casar tantas vezes também incorre em desrespeito religioso. Sem contar o linguajar e as piadas ‘profanas’ aos olhos – e ouvidos – daqueles que seguem à risca os preceitos e obrigações da doutrina cristã.

ATAQUE INFAME

Nesta terça-feira (3/8), ao atacar mais uma vez a democracia brasileira, o presidente, sabe-se lá o porquê, resolveu denegrir a imagem do ex-prefeito de São Paulo, Bruno Covas, morto em maio deste ano, após uma dura e longa batalha contra o câncer. Às portas do Alvorada, disse aos fiéis que lhe aguardavam:

‘É como aquele outro aí, que morreu. Fecha São Paulo e vai ver Palmeiras e Santos no Maracanã’. Bolsonaro estava se referindo à final da Copa Libertadores deste ano, ocorrida em janeiro, no Rio. Em meio à pandemia do novo coronavírus, foi permitido extraordinariamente o acesso de 5 mil torcedores ao estádio.

DESPEDIDA CRUEL

Covas – santista apaixonado – sabedor do (pouco) tempo de vida que lhe restava, foi com o filho Tomás, de 15 anos, também um torcedor do Peixe, não apenas assistir à partida e torcer pelo título do Santos, mas sobretudo proporcionar a lembrança – que será eterna! – ao garoto, daquele dia tão importante para ambos.

O prefeito e o filho, podemos assim dizer, foram se despedir de um prazer que jamais iriam desfrutar juntos outra vez. Fico imaginando o que passou na cabeça de ambos; toda a mistura de sentimentos e emoções que viveram naquele dia: dor, medo, raiva, ansiedade, alegria, tristeza, incerteza, decepção.

SENTIMENTO PATERNO

Sou um chorão assumido, e enquanto escrevo sinto um nó a torcer minha garganta. Sou pai de uma adolescente de 15 anos também, e nossa relação é profundamente amorosa e próxima. A dor que sentiram Covas e Tomás (e este ainda sente) é a pior que pode existir para pessoas que amam e são amadas.

Jair Bolsonaro é claramente um homem insensível e impiedoso. Um sujeito incapaz de sentimentos nobres. Sua relação com os filhos mostra o que os une, e ali não há nada que pareça com amor paternal – e vice-versa. São políticos que se aproveitam e se alimentam uns dos outros e nada mais; nada além.

RELAÇÃO FAMILIAR

Que filho amoroso, verdadeiramente preocupado com a saúde do pai e com medo de o perder, conseguiria tirar uma foto (aquela de Bolsonaro, supostamente sedado e com a barriga inchada à mostra, na cama do hospital) e publicar em redes sociais como fizeram seus filhos – ou um deles, acho que o Carlos?

Que pai, verdadeiramente capaz de amar um filho, declararia: ‘eu prefiro ter um filho morto que um herdeiro gay’. Ou: ‘seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí’. Compreendem o meu ponto?

INCAPAZ DE AMAR

Bolsonaro não conhece o ‘amor’. Aliás, foi mais ou menos isso que declarou Tomás Covas ao saber da infâmia presidencial ao seu pai: ‘Meu pai sempre foi um homem sério. Fez questão de me levar ao Maracanã no fim da sua vida para curtirmos seus últimos momentos juntos. Isso é amor! Bolsonaro nunca entenderá esse sentimento’.

Eis aí. Não entenderá mesmo. E o sentimento que tem por Bruno Covas é o mesmo que tem pelos quase 600 mil mortos por Covid-19 no Brasil. Para o atual presidente todos são ‘o outro aí, que morreu’. Não tinham nome, rosto, sonhos, história, planos, família. Por isso, expressões como ‘parem de mimimi’ ou ‘vão chorar até quando?’.

CPF CANCELADO

Bolsonaro jamais se importou com as mortes – e jamais se importará – porque nem sequer se preocupa com a sua própria. Quando fala, ‘se morrer, morreu’ ou ‘todos irão morrer um dia’, ele demonstra o apreço que tem pela vida e pela dor de quem perde alguém que ama: simplesmente nenhum! Zero.

Ao receitar remédios que não funcionam; ao incentivar e promover aglomerações; ao encorajar o enfrentamento ‘de peito aberto’ ao vírus; ao maldizer o uso de máscaras; ao boicotar as vacinas e tudo mais, no íntimo, o que Bolsonaro deixa transparecer é que não se importa se um ou milhões morrerem. Ele mesmo diz: ‘CPF cancelado’.

RECADO DADO

Conforme prometido, caminho para o fim deste texto sem recorrer, como de costume, à adjetivações pejorativas e/ou outras formas de contra-ataque. Sim, porque quando ‘ofendo’ o presidente da República, apenas retribuo suas ofensas iniciais. Quando o ‘ataco’, é em resposta a um ataque anterior. Desrespeito com desrespeito se paga.

Mas confesso que não estou satisfeito. Meu estilo – e gosto – é escrever com o fígado e deixar à mostra toda a minha indignação. Porém, como disse anteriormente, não é um assunto para ser tratado no subsolo da civilização, sob pena de quem o fizer – no caso seria eu – se igualar a Jair Messias Bolsonaro, o mito que tanta gente idolatra.