O presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, que assumirá em 15 de agosto, mostrou-se partidário de um Mercosul “mais aberto” e rechaçou a ideia promovida por Brasil e Argentina de criar uma moeda comum para o bloco sul-americano.

Em entrevista ao jornal argentino Infobae publicada neste sábado (5), Peña, de 44 anos, disse que quer “um Mercosul mais aberto” e reconheceu que entende a postura do Uruguai, que negocia acordos comerciais com terceiros sem a anuência do bloco, o que gerou uma forte crise no grupo fundado em 1991.

“Quero um Mercosul mais aberto. O Paraguai está no meio de duas economias muito grandes, o que também acontece com o Uruguai. Quando o presidente do Uruguai (Luis Lacalle Pou) diz que poderia negociar separadamente com a China, o que faz é levantar a voz e dizer-lhes ‘senhores, ou flexibilizamos o Mercosul para nós ou teremos que sair em busca de outros mercados'”, refletiu.

Em maio, durante uma visita a Montevidéu, Penã havia se mostrado a favor de manter a postura de seu país, favorável às negociações comerciais em bloco.

O Uruguai está em conversas avançadas para um Tratado de Livre Comércio (TLC) com a China ao qual seus parceiros do Mercosul se opõem, tendo o Brasil na liderança, e solicitou entrada no Acordo Transpacífico.

Montevidéu vem defendendo, há vários governos, que a falta de sucessos conjuntos em matéria de acordos comerciais deveria dar lugar a uma flexibilização do bloco que permita buscar uma abertura em diferentes velocidades, pela via individual.

Peña, um economista que assumirá pelo Partido Colorado em substituição a Mario Abdo Benítez, rejeitou, durante sua entrevista ao meio argentino, a ideia de uma moeda comum para o Mercosul, impulsionado pelo Brasil com apoio da Argentina e rechaço do Uruguai.

“A moeda comum não convém a ninguém porque a condição básica para que ela funcione é que os países estejam nos mesmos ciclos econômicos, e isso não ocorre. O Paraguai tem uma inflação anual de 4% e a Argentina de mais de 100%”, exemplificou.

A inflação anual na Argentina, em meio a uma crise cambial e de reservas internacionais escassas, supera os 115%.

Peña referiu-se também ao debate sobre a dolarização das economias, muito presente durante a campanha eleitoral da Argentina, que elegerá novo presidente em outubro.

“O tipo de câmbio é uma grande ferramenta: os países que se dolarizam geram lucros a curto prazo, mas a longo são um problema. Ocorreu com a conversibilidade”, recordando sobre a crise que atingiu o seu vizinho no começo do século após a paridade peso-dólar.

Penã destacou ainda que buscará fazer da gestão da hidrovia Paraná-Paraguai-Uruguai, que permite a troca de mercadorias de seu país – sem saída para o mar -, seja “tema central na agenda do Mercosul”.

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