O presidente eleito da Bolívia, Rodrigo Paz (centro-direita), anunciou nesta segunda-feira, 20, que retomará as relações com os Estados Unidos, rompidas desde 2008 durante o governo do ex-mandatário de esquerda Evo Morales.
“No caso específico dos Estados Unidos (…), essa relação será retomada”, afirmou Paz, de 58 anos, em sua primeira coletiva de imprensa após sua vitória no segundo turno das eleições de domingo.
O presidente eleito assumirá o cargo em 8 de novembro.
Quem é Rodrigo Paz
Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, que governou de 1989 a 1993, e da espanhola Carmen Pereira, Rodrigo Paz nasceu em Santiago de Compostela, Espanha, e passou lá sua primeira infância. Ele é economista e estudou relações internacionais, além de ter ampla experiência no setor público.
Seu pai, um dos fundadores do Movimento de Esquerda Revolucionária, de inspiração marxista, na década de 1960, exilou-se na Espanha para escapar da repressão do general Hugo Bánzer, um dos ditadores que governaram a Bolívia de 1964 a 1982. Paz Zamora retornou ao Peru quando Bánzer renunciou em 1978. Anos depois, em uma reviravolta irônica, ele fez um pacto político com o homem que o havia aprisionado e exilado.
Quando Paz Zamora concorreu à presidência em 1989, uma votação apertada levou a escolha do presidente do país ao Congresso da Bolívia, e o socialista fechou um acordo com o ditador que se tornou político conservador para garantir a vitória.
Seu mandato trouxe disciplina fiscal rigorosa e reformas de livre mercado para controlar a inflação, entusiasmando investidores, mas decepcionando seus antigos apoiadores de esquerda, que viram a desigualdade se agravar e o desemprego persistir.
Paz iniciou sua carreira política no partido de esquerda de seu pai, mas mais tarde, assim como o velho Paz, reformulou-se como um conservador comprometido com reformas pragmáticas e favoráveis a empresários. Começou como deputado na câmara baixa do Congresso antes de se tornar prefeito de Tarija, no sul do país, de 2015 a 2020. Desde então, tinha cargo de senador.
Tarija não acolheu seu ilustre prefeito: tanto no primeiro quanto no segundo turno das eleições presidenciais, o partido de Paz perdeu na região, mesmo tendo conquistado seis dos nove departamentos do país.
Como prefeito, modernizou o centro de Tairja com calçadões e vastas praças, que deixaram muitos moradores da classe trabalhadora se sentindo abandonados, enquanto a região rica em petróleo sofria com a queda nas receitas. As demissões de Paz no setor público para reduzir um déficit crescente enfureceram os sindicatos.
De azarão a presidente eleito
Quando a campanha eleitoral boliviana começou no início de agosto, o senador de fala mansa de Tarija sequer foi selecionado para os primeiros debates televisionados. Seguranças foram chamados no primeiro debate, para remover um grupo de seus apoiadores que interromperam a transmissão ao vivo, levantando uma placa com as informações de contato de Paz para que ele pudesse ser convidado para o próximo.
Antes da eleição de 17 de agosto, ele estava nas pesquisas perto da última posição entre os oito candidatos. Em pequenas paradas de campanha nos planaltos andinos, teve dificuldade para lotar os auditórios.
Sua escolha do ex-capitão da polícia Edman Lara como companheiro de chapa foi quase acidental – solução de última hora após a primeira escolha de Paz ter desistido. Mas o “Capitão Lara”, como é conhecido, turbinou a campanha de Paz, impulsionando a chapa à vitória em ambos os turnos eleitorais.
A história de Lara – demitido da polícia em 2023 por denunciar corrupção em vídeos virais no TikTok – ampliou a mensagem anticorrupção de Paz e repercutiu entre os moradores indígenas da classe trabalhadora das terras altas da Bolívia, que antes constituíam a base do partido Movimento ao Socialismo.
A dupla montou uma campanha ágil, cruzando cidades e comunidades rurais para promover eventos sem sofisticação e regados a cerveja com a mensagem de “capitalismo para todos”. Servindo carne grelhada e economizando em outdoors sofisticados, eles contrastaram com o rico Quiroga e seu grande orçamento de campanha.
Apesar dos planos de Paz de eliminar subsídios aos combustíveis, desvalorizar a moeda boliviana e reduzir o investimento público, o tom populista de sua campanha convenceu os eleitores de que ele agiria em um ritmo palatável.
Eles também prometeram doações em dinheiro para os pobres e outros benefícios para amortecer o impacto dos cortes mais severos, apelando a um espectro de eleitores de um país diverso.