O presidente do Peru, Pedro Castillo, se recusou de última hora a receber uma comissão do Congresso que deveria interrogá-lo nesta segunda-feira (27) sobre um caso de suposta corrupção que pode desencadear um pedido de impeachment.

“Recomendamos ao presidente que não receba a Comissão de Fiscalização do Congresso”, informou à imprensa o advogado de Castillo, Benji Espinoza.

“O presidente da República não irá testemunhar devido ao não respeito das garantias mínimas do devido processo” pela Comissão, composta em maioria por opositores, alegou.

A comissão do Congresso e o presidente esquerdista concordaram há uma semana em se reunir nesta segunda-feira.

O advogado questionou que o presidente da comissão havia dito à imprensa que eles tinham provas contra Castillo, o que interpretou como um avanço de um parecer condenatório não relacionado ao seu trabalho investigativo.

A mudança de posição de Castillo ocorre depois que o mesmo manisfestou na semana passada “sua total disposição para receber esta comissão no gabinete presidencial”.

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Apesar da recusa ter sido tornada pública na madrugada, os membros da comissão deslocaram-se ao Palácio do Governo para registar que não foram recebidos.

“Nenhum advogado apareceu. É uma falta de respeito do presidente com a instituição do Congresso”, declarou o chefe da comissão, o opositor Héctor Ventura.

Castillo estava na região andina de Huancavelica na hora em que a reunião no Palácio do Governo deveria começar.

A bancada da coalizão oficialista denunciou que Castillo é vítima de “uma perseguição política disfarçada de legalidade”.

O caso que colocou o presidente sob o escrutínio dos legisladores é o mesmo pelo qual a promotoria o está investigando, um fato inédito na justiça peruana.

– “Escárnio com o Congresso” –

O Ministério Público investiga Castillo, no poder há 11 meses, por supostos crimes de tráfico de influência, organização criminosa e conluio, com o agravante de envolver possivelmente seu entorno político e familiar. No entanto, não pode ser levado à justiça, pois tem imunidade como chefe de Estado.

Trata-se da investigação do consórcio “Puente Tarata III”, que busca apurar se um ex-ministro dos Transportes, seis parlamentares, um ex-secretário-geral da Presidência e dois sobrinhos de Castillo faziam parte de uma suposta rede criminosa chefiada pelo presidente para conceder um contrato de obras públicas.

“O presidente está em seu jogo, engana a população. O que faz é um escárnio com o Congresso, (porque) ele está na obrigação de prestar contas”, declarou o congressista opositor Jorge Montoya ao Canal N.

O advogado Espinoza não descarta que o presidente responda por escrito ao interrogatório da comissão, o que esta recusa.

A comissão planeja apresentar o relatório de sua investigação ao plenário do Congresso em uma semana.


Se aprovado, o caminho está aberto para que Castillo – que completará um ano no poder em 28 de julho – enfrente um novo pedido de impeachment.

O Congresso fracassou em duas tentativas de destituir o presidente, a última em março, quando um julgamento político relâmpago realizado pela oposição obteve apenas 55 dos 87 votos necessários.


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