BRUXELAS, 8 ABR (ANSA) – O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, se tornou alvo de críticas por aceitar passivamente o tratamento sexista dispensado pelo mandatário da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, à chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.   

Já apelidado de “sofagate”, o caso ocorreu na última terça (6), quando Erdogan recebeu Michel e Von der Leyen para uma reunião no palácio presidencial em Ancara, mas separou uma cadeira apenas para o líder do Conselho Europeu.   

Erdogan e Michel se sentaram em frente às bandeiras da Turquia e da União Europeia, enquanto Von der Leyen ficou sem saber para onde ir, até ser acomodada em um sofá, afastada dos outros dois líderes.   

O presidente do Conselho Europeu, no entanto, se tornou alvo de críticas em Bruxelas por aceitar esse tratamento a Von der Leyen, que ocupa o cargo mais poderoso no organograma da UE e chefia o equivalente ao poder Executivo do bloco.   

“Além das avaliações políticas sobre as relações entre a UE e um país como a Turquia, onde são violados direitos civis, humanos e políticos, o que parece evidente é a clara inadequação do presidente Charles Michel, o qual aceitou passivamente a vergonhosa escolha de Erdogan e do protocolo turco de excluir a presidente [Von der Leyen] da posição que lhe cabia”, diz uma carta assinada pelas eurodeputadas italianas Alessandra Moretti e Patrizia Toia, do grupo de centro-esquerda Socialistas e Democratas. (S&D).   

Sua correligionária Pina Picierno foi ainda mais longe e pediu a renúncia de Michel. “Os atos criminosos de Erdogan foram ignorados durante anos em nome de interesses particulares.   

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Charles Michel deveria se demitir por isso e não apenas por questões de grosseria institucional”, afirmou a europarlamentar no Twitter.   

A também italiana Giorgia Meloni, presidente do grupo de extrema direita Reformistas e Conservadores Europeus, afirmou que o comportamento de Michel a deixou “sem palavras”. “Ele não fez nada para impedir esse ultraje e se curvou à imposição islamita de Ancara”, acrescentou.   

O presidente do Conselho Europeu, por sua vez, justificou que a postura de Erdogan com Von der Leyen se deveu a uma “interpretação rigorosa das normas protocolares” e que ele percebeu o caráter “deplorável” da situação, mas preferiu “não agravá-la com um incidente público”.   

Já o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, afirmou que Michel e Von der Leyen tinham de ser tratados do mesmo modo e que o Executivo de Bruxelas vai “analisar o ocorrido para que não aconteça mais”.   

Protocolo – Em nível institucional, o presidente do Conselho Europeu precede o da Comissão Europeia em termos de representação externa, mas nenhum líder internacional trata os dois de forma diferente.   

O próprio Erdogan, ao receber certa vez Jean-Claude Juncker e Donald Tusk, antecessores de Von der Leyen e Michel, respectivamente, ofereceu cadeiras para os dois e se sentou entre eles.   

O Conselho Europeu é o órgão que reúne os líderes dos 27 Estados-membros da UE, e seu presidente tem um papel mais cerimonial, de mediador entre os interesses dos países.   

Já Von der Leyen chefia o poder Executivo da União Europeia, que reúne mais de 30 mil funcionários e uma equipe de comissários indicados por cada Estado-membro.   

Em termos reais, Von der Leyen tem um poder significativamente maior que o de Michel, tanto que o posto de presidente da Comissão Europeia é o mais cobiçado na divisão de cargos entre os membros do bloco. (ANSA).   


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