A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, recebeu nesta segunda-feira (10) o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Alex Azar, que viajou à ilha para uma visita sem precedentes em mais de 40 anos, o que provocou um forte mal-estar na China.

Azar é o funcionário do governo americano de maior hierarquia a visitar Taiwan desde 1979, quando Washington rompeu as relações diplomáticas com Taipé para reconhecer o governo comunista estabelecido em Pequim como único representante da China.

A visita de três dias de Azar acontece em um momento de grande tensão entre Washington e Pequim, que divergem em vários temas, como a situação em Hong Kong, as questões comerciais ou as responsabilidades na pandemia do novo coronavírus.

Nesta segunda-feira, o secretário de Saúde se reuniu com Tsai, grande rival da China, que a acusa de buscar a independência formal da ilha de 23 milhões de habitantes.

“A reação de Taiwan à COVID-19 está entre as mais eficazes do mundo e isto reflete a natureza aberta, transparente, democrática da sociedade e da cultura de Taiwan”, declarou Azar à presidenta taiwanesa durante o encontro.

– “Valores comuns” –

Tsai agradeceu o apoio dos Estados Unidos a seus esforços para que Taiwan seja admitido como observador na Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar da China ter conseguido excluir Taiwan da agência das Nações Unidas.

“As considerações políticas nunca deveriam estar acima dos direitos à saúde”, declarou Tsai, que considerou “lamentável a recusa de Pequim a permitir a admissão de Taiwan na OMS.

A República Popular da China considera a ilha como uma província, apesar de Taiwan ser governada por um regime rival que se refugiou no território após a tomada de poder dos comunistas em Pequim em 1949, depois de sua vitória na guerra civil.

Taiwan não é reconhecido como um Estado independente pela ONU e Pequim ameaça recorrer à força no caso de uma declaração de independência de Taipé ou de uma intervenção estrangeira, especialmente da parte de Washington.

Há alguns dias, o governo chinês afirmou que a visita de Azar era uma ameaça para a “paz e a estabilidade”.

O secretário americano rebateu as críticas nesta segunda-feira.

“A mensagem do governo dos Estados Unidos consiste em reafirmar a profunda associação que une os Estados Unidos e Taiwan nas áreas de segurança, comércio, saúde e nossos valores comuns, que são a democracia, a liberdade econômica e a liberdade “, declarou aos jornalistas antes do encontro com a presidente.

– Menos de 500 casos em Taiwan –

Azar já criticou a atitude da China ante uma pandemia que surgiu em seu território, assim como as ações da OMS. Uma postura que repetiu nesta segunda-feira.

“Taiwan soube desde o início que não deveria confiar nas afirmações procedentes de lá (Pequim) nem nas validações feitas pela Organização Mundial da Saúde”, declarou.

Alex Azar também tem reuniões programadas com o ministro da Saúde, Chen Shih-chung, e com o ministro taiwanês das Relações Exteriores, Joseph Wu.

Apesar da proximidade geográfica e comercial com a China continental, onde a epidemia teve início, Taiwan registra menos de 500 casos de coronavírus e apenas sete mortes.

Os Estados Unidos lideram o ranking de países com mais vítimas fatais, com mais de 160.000.

Os críticos do presidente americano, Donald Trump, o acusam de endurecer o tom contra Pequim para desviar a atenção dos erros de seu governo no combate à COVID-19, a apenas três meses das eleições.

Douglas Paal, que dirigiu o Instituto Americano de Taiwan durante a presidência de George W. Bush, a administração Trump tem consciência dos riscos provocados pela questão de Taiwan, uma das mais sensíveis para o comando do Partido Comunista Chinês. Até o momento não ultrapassou a linha vermelha para Pequim: uma visita a Taipé de autoridades americanas responsáveis por questões de segurança nacional.

Altos funcionários da administração americana responsáveis pelo Comércio Exterior visitaram Pequim na década de 1990, mas, segundo Paal, a diferença era que as relações entre Pequim e Washington não eram tão tensas.