O presidente José Eduardo dos Santos, um dos mais antigos líderes africanos, confirmou nesta sexta-feira o fim do seu regime de 37 anos em Angola, ao anunciar que não irá tentar a reeleição nas eleições gerais de agosto.

De acordo com informações vazadas em dezembro, um de seus seguidores, o atual ministro da Defesa João Lourenço, foi escolhido para sucedê-lo à frente do país.

“O Comitê Central do MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola, no poder) aprovou o nome do candidato João Lourenço na lista para as eleições de agosto”, declarou Santos na abertura de uma reunião do partido.

Com 74 anos, Santos, também conhecido como “Zedu”, confirmou sua aposentadoria após boatos sobre sua doença.

Santos, que chegou ao poder em 1979, perde por apenas um mês o título de decano dos presidentes africanos para o atual presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema.

“Muitos angolanos vão vivenciar pela primeira uma mudança de presidente”, comentou à AFP Alex Vines, do centro britânico Chatham House.

“Este é um ponto de virada na história moderna de Angola”, acrescenta o especialista.

No ano passado, Santos evocou pela primeira vez publicamente sua aposentadoria, dizendo que deixaria o cargo em 2018, um ano depois de uma provável reeleição.

E no início de dezembro, fontes do partido revelaram que ele não disputaria outro mandato como presidente. Mas esta informação não foi confirmada oficialmente, abrindo a porta a todos os rumores.

Santos foi por muito tempo acusado de querer promover um de seus filhos para perpetuar o seu domínio sobre o país.

– Mudança –

Mas, confrontado com a relutância dos dirigentes do MPLA, ele confirmou nesta sexta-feira que cederá a João Lourenço, atual ministro da Defesa e vice-presidente do partido.

O general da reserva deve sucedê-lo na direção de Angola se, com toda a probabilidade, o partido no poder vencer em agosto.

A Constituição angolana não prevê eleição presidencial, mas aponta que o cargo de chefe de Estado vai para o número 1 do partido que vence as eleições.

“O processo de transição foi formalizado por Santos. Isso irá diminuir os rumores de que o presidente poderia dar um passo atrás”, afirma Vines.

Com a saída do ex-guerrilheiro marxista, uma nova página da história de Angola se abre, mas seus adversários não esperam grandes mudanças.

“As pessoas vão perceber que ninguém é eterno, mas no nível político não vai mudar muito”, prevê o rapper e opositor Luaty Beirão.

O MPLA chegou ao poder em 1975, quando Angola tornou-se independente de Portugal. Santos tomou as rédeas do país quatro anos mais tarde, após a morte do líder histórico, Agostinho Neto.

Durante o seu reinado, “Zedu” impôs a sua autoridade em todo o país, da justiça à economia, amordaçando a oposição por meio de uma repressão policial brutal.

Símbolo de seu poder em Angola, nomeou em junho passado a sua filha Isabel, considerada a mulher mais rica da África, para o posto-chave de diretora da Sonangol, a companhia nacional de hidrocarbonetos.

Se ele tirou o país da guerra civil (1975-2002) deixa para João Lourenço um país mergulhado na pobreza extrema e em uma grave crise econômica causada pela queda do preço do petróleo.