“A companhia é a instituição mais importante da nossa época”. O credo não sai da boca de um empresário, mas de Pavan Sukhdev, novo presidente da WWF International, convencido de que os empresários têm o dever “moral” de proteger o meio ambiente.

O objetivo da empresa “vai muito além do lucro”, diz o economista indiano, em entrevista à AFP. O ex-banqueiro estava em Paris quarta e quinta-feira, no momento em que assumia essa ONG dedicada às questões ambientais, presente em mais de 80 países para preservar espécies e áreas selvagens em risco.

A organização tem estabelecido parcerias com empresas há uma década.

“Para sobreviver, tenho que respirar, mas a respiração não é o meu objetivo. Da mesma forma, a empresa precisa fazer lucro para existir, mas os benefícios não são seu fim, é apenas uma parte do mecanismo”, explica.

Óculos de armação fina, terno impecável, Pavan Sukhdev desafia “o credo” do economista liberal Milton Friedman, “segundo o qual a empresa é simplesmente uma máquina de dinheiro para os acionistas”, durante uma reunião na sede da WWF França nos subúrbios de Paris.

A seus olhos, o objetivo das empresas privadas deve ser “societal: resolver problemas, agregar valor, servir à sociedade”, porque causam danos ao planeta. “É um imperativo moral e econômico”, insiste.

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O economista, de 57 anos, apresenta um exemplo concreto: “Estou vendendo um carro, fazendo lucro, estou feliz. Você dirige o carro (…), você está feliz. Mas uma terceira pessoa pode não estar feliz, porque as emissões do seu carro podem afetar seus pulmões, e uma quarta pessoa pode não estar feliz, porque essas mesmas emissões contribuem para as mudanças climáticas, e sua casa no litoral foi destruída pelo aumento do nível das águas e tempestades”.

“Essas pessoas sofrem as ‘externalidades’ da nossa atividade econômica (…)”, isto é, seus efeitos colaterais, completa.

Hoje, “CEOs e líderes econômicos têm um imperativo moral de reconhecer a existência dessas ‘externalidades’, de medi-las (…) e de reduzi-las na medida do possível”, reforça.

– Perfil atípico –

Se uma tendência nessa direção for iniciada, “as mudanças vão-se acelerar”, tanto por “encorajar bons comportamentos” quanto “por acabar com os maus”.

Para alcançar isso, “todos nós temos um papel a desempenhar”, defende o indiano, que aproveitou sua estada em Paris para se encontrar com a secretária de Estado para a Transição Ambienta, Brune Poirson, e com representantes da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Ele pede “um modo mais responsável de consumo, que reconheça seu impacto” sobre o meio ambiente e que “não o encoraje a consumir de forma prejudicial para a natureza, para a sociedade”.

Pavan Sukhdev tem um perfil atípico no mundo das ONGs: passou 11 anos no banco australiano AZN, depois 14 anos no grupo alemão Deutsche Bank, na Ásia e em Londres, trabalhando, sobretudo, com produtos derivados. A “paixão” pelo meio ambiente finalmente falou mais alto, conta ele.

Foi diretor da Iniciativa Verde das Nações Unidas e liderou o estudo sobre a Economia de Ecossistemas e Biodiversidade (TEEB), publicado em 2010, que ajudou a popularizar o conceito de “capital natural”.

A ideia é avaliar o valor dos serviços prestados pela biodiversidade, agora feito gratuitamente. De acordo com este trabalho, a erosão da biodiversidade custa entre 1,3 bilhão e 3,1 bilhões de euros por ano.

Ainda hoje, esse conceito permanece incompreendido, o que pode levar à “resistência”, reconhece o economista.


“Não se trata de privatizar os bens comuns, é exatamente o oposto: é uma questão de encontrar uma razão racional para garantir que esta riqueza pública, que é a natureza – central para nossas existências – seja preservada”, explica.

Da teoria à prática, ainda há um abismo, ele admite.


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