ROMA, 16 MAR (ANSA) – Sem fazer aparições públicas desde 27 de fevereiro, o presidente da Tanzânia, John Magufuli, vem sendo alvo da curiosidade dos cidadãos e também da comunidade internacional sobre onde foi parar o chefe de Estado? A oposição e mídia local, porém, precisam ter muito cuidado ao fazer afirmações porque foi publicada uma lei que pune com prisão sobre quem falar sobre uma possível doença ou até a morte de Magufuli – quatro já foram detidos.
Entre os que têm coragem de se manifestar, a resposta é clara: o presidente está doente. Do que, exatamente, ninguém sabe. No entanto, a Tanzânia é um dos países do mundo em que o governo nega a existência da pandemia de Covid-19 entre os cidadãos e, há mais de um ano, não publica nenhum dado de saúde sobre possíveis casos ou mortes relacionadas à doença.
Oficialmente, a onda de mortes registrada neste ano, acima da média normal, foi atribuída a uma pneumonia. Mas, em 19 de fevereiro, Magufuli participou do funeral do chefe de administração pública de seu governo, John Kijazi, que não teve a causa do óbito revelada, e disse que havia uma “doença respiratória” no país.
Em 24 do mesmo mês, três dias antes da última aparição pública do presidente, o ministro da Economia, Philip Mpango, apresentava sintomas da doença – como tosse e dificuldade de respirar -, mas foi à uma coletiva de imprensa negar que havia contraído o coronavírus Sars-CoV-2.
Católico fervoroso, Magufuli sempre disse à população para acreditar no poder da oração para não pegar a Covid-19. Porém, ele não é visto em missas dominicais, das quais sempre participava, desde o seu “sumiço”.
As autoridades do país fizeram orientações do uso de máscara e das regras básicas, como lavar as mãos constantemente e manter o distanciamento social, mas o mandatário sempre ignorou os conselhos e dizia para os cidadãos usarem remédios a base de ervas medicinais que não ficariam doentes – além de classificar as vacinas anti-Covid como “perigosas”.
Com esse cenário de despreocupação, os rumores de que o mandatário contraiu a Covid-19 só aumentam. O primeiro-ministro, Kassim Majaliwa, tentou desconversar e disse que falou com Magufuli por telefone na “última semana”. Segundo o premiê, o presidente “está bem de saúde e trabalhando normalmente”.
Porém, na segunda-feira (15), a vice-presidente do país, Samia Suluhu Hassan, apesar de não citar diretamente o nome de Magufuli, afirmou que “é muito normal para uma pessoa contrair uma gripe, ter febre ou qualquer outra doença”, acrescentando que “para nós, agora é hora de permanecermos unidos”.
Um dos líderes da oposição, Tundu Lisso, que vive exilado na Bélgica, usou sua conta no Twitter para informar que soube de fontes de Inteligência que o mandatário “está com Covid-19 e usando um aparelho para respirar”.
O jornal queniano “Daily Nation” divulgou que entrou em contato com um hospital de Nairobi que afirmou que um “líder africano” proveniente de um país fronteiriço está internado lá, mas o governo da Tanzânia negou que seja Magufuli. Outros governos regionais também se esquivaram de falar se o chefe de Estado está internado para se tratar da Covid-19.
Magufuli, 61 anos, foi reeleito para o cargo em outubro do ano passado, em eleições que suscitaram muitas críticas por terem ocorrido em meio à pandemia e sem nenhum cuidado com a saúde pública. Ele está no cargo desde novembro de 2015. (ANSA).